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Discurso de Chávez gera incerteza na Venezuela

Por Agencia Estado
Atualização:

A advertência feita na quinta-feira pelo presidente Hugo Chávez sobre a possível declaração de um estado de exceção despertou fortes críticas de vários setores na Venezuela. Segundo analistas e dirigentes empresariais, o anúncio agravou a situação de incerteza e tensão interna provocada pelas greves mantidas há 11 dias pelos professores de escolas públicas e trabalhadores metalúrgicos. Chávez justificou a declaração do regime de exceção argumentando que os problemas da pobreza, da desnutrição e a situação da saúde são "sumamente graves" e exigem um "tratamento extraordinário". O mandatário descartou ontem que a declaração possa constituir um "autogolpe" ou um "golpe de Estado", como afirmaram alguns grupos de oposição, mas enfrentou os críticos dizendo que "posso decretar o estado de exceção porque me cabe". Pedro Carmona, vice-presidente da Federação de Câmaras da Venezuela - Fedecámaras, a maior organização empresarial do país -, disse à Associated Press que a declaração do estado de exceção é um tema "transcendente", que causa alguns "impactos" na opinião pública nacional e internacional. O dirigente empresarial sustentou que o anúncio presidencial poderia ter influência sobre "o clima dos negócios os investimentos e o clima que prevalece internamente". Um estudo feito pelo Conselho Nacional do Comércio e dos Serviços entre 400 empresários durante o primeiro trimestre deste ano, divulgado na sexta-feira pelo jornal El Nacional, assinala que 73% dos empresários locais consideram que o discurso de Chávez gerou desconfiança entre os potenciais investidores. A Venezuela, país prOdutor de petróleo, onde metade da população vive na pobreza, enfrenta há mais de dois anos uma forte recessão econômica que intensificou a crise social. A economia venezuelana registrou no final do ano passado um crescimento de 3,2% do Produto Interno Bruto (PIB), o que representou uma recuperação em comparação com 1999 - quando a economia caiu 6,1% do PIB. O ex-ministro do Planejamento e diretor de um vespertino local, Teodoro Petkoff, criticou duramente Chávez por insistir no estado de exceção, e sustentou que não existem razões de gravidade constitucional no país que justifiquem a adoção da medida. Petkoff disse à emissora Unión Radio que Chávez está atuando "em desespero" porque se sente "encurralado" diante da "incompetência" de seu governo, que dois anos após o início de seu mandato ainda não conseguiu reativar a economia. O ministro da Defesa, José Vicente Rangel, desconsiderou nesta sexta-feira que a possível declaração de estado de exceção seja uma resposta a uma situação de desestabilização e defendeu a proposta do mandatário dizendo que os problemas crônicos do país "merecem uma resposta contundente". O represesntante da Venezuela perante a Comissão Interamericana dos Direitos Humanos, Hermán Escarrá, disse esta semana que Chávez o havia consultado sobre a possível declaração de um estado de exceção. Escarrá explicou que esse regime especial permitiria ao presidente emitir alguns decretos para atender a alguns problemas pontuais, tais como a corrupção e a insegurança.

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