''Discussão sobre assentamentos é inútil''

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Por Ehud Olmert
Atualização:

A parceria de Israel com os EUA é um de seus maiores ativos estratégicos. Além do apoio político inestimável que dá a Israel no cenário internacional, Washington também presta ajuda econômica e de segurança que são cruciais. Em meio à legitima reaproximação iniciada pelo presidente Barack Obama com o mundo muçulmano e árabe, é importante não subestimar a natureza multifacetada das relações entre EUA e Israel, única verdadeira democracia do Oriente Médio, cujos princípios têm base nos valores ocidentais de liberdade. Durante o mandato do premiê Ariel Sharon, e depois no meu governo, reforçamos com George W. Bush, nossas relações bilaterais. Esse progresso teve base em acordos de entendimento francos e profundos. Na segunda intifada, os EUA deram um apoio sem precedentes à luta de Israel contra o terrorismo palestino e à construção de um muro de segurança. Juntos, imaginamos a "solução de dois Estados", única maneira de acabar com o conflito, adotando o Mapa da Estrada e sua continuação. Por uma grande maioria, o Congresso americano endossou uma carta de Bush, em 2004, tratando do direito de autodefesa de Israel contra qualquer ameaça, e reconheceu a nova realidade da região em que os centros de população judaica na Cisjordânia seriam parte inseparável do Estado de Israel em qualquer acordo futuro. Os EUA reconheceram que o futuro Estado palestino representaria a solução para os refugiados, reinstalando-os ali e não em Israel. Em novembro de 2007, Israel, a Autoridade Palestina e o governo Bush, reuniram-se em Annapolis com o objetivo de solucionar todos os assuntos pendentes. Na reunião foram estabelecidas as bases das negociações para acabar com o conflito. Hoje, porém, em vez do processo político, é a questão da construção de assentamentos que domina a agenda. É um erro, já que não é propício nem para o processo de paz nem para as relações entre Israel e o mundo árabe. Além disso, o tema tem potencial para abalar as relações entre americanos e israelenses. Os assentamentos são um tema de discórdia entre Israel e EUA. Embora Washington não tenha apoiado a construção, em algumas ocasiões reconheceu a realidade que se criou nos últimos 40 anos. Sharon chegou a assinar acordos com os EUA que estabeleceram que não seriam construídos novos assentamentos; não seriam alocadas nem confiscadas novas terras para a construção de assentamentos; qualquer assentamento seria erigido dentro das atuais diretrizes de construção; nenhum incentivo econômico seria criado para promover o aumento dos assentamentos; os postos avançados não autorizados, erigidos depois de março de 2001, seriam desmantelados. Tais entendimentos deram um equilíbrio para permitir a estabilidade para os israelenses nos assentamentos, até seu futuro ficar determinado em um acordo permanente. Adotei esses acordos e os segui em coordenação com o governo Bush. Além disso, durante minha viagem para Annapolis e nas reuniões que mantivemos ali, deixei claro para os EUA e para os palestinos que Israel continuaria a construir nos assentamentos de acordo com os critérios acima. Permita-me ser claro: sem aqueles entendimentos, o processo de Annapolis não teria adquirido forma. Portanto, hoje, o foco na construção de assentamentos é inútil. A insistência para que se imponha um congelamento total das construções não vai aumentar os esforços palestinos para fortalecer as medidas de segurança nem criar instituições para o desenvolvimento de um Estado palestino. Também não vai enfraquecer o governo do Hamas em Gaza e não trará mais segurança para Israel. Tampouco fortalecerá uma coalizão de Estados árabes moderados ou alterará o equilíbrio estratégico no Oriente Médio. Somente um processo político, que exigirá decisões corajosas dos líderes de ambos os lados, trará uma solução para o problema dos assentamentos. Até hoje, não consegui compreender por que os líderes palestinos não aceitaram a proposta que ofereci, que incluía uma solução para todos os assuntos pendentes - compromisso territorial, acordos de segurança, Jerusalém e os refugiados. Valeria a pena analisar as razões pelas quais os palestinos rejeitaram minha oferta e preferiram, ao contrário, contemporizar, evitando tomar decisões concretas. Minha proposta teria ajudado a tornar realidade a "solução de dois Estados", de acordo com os princípios dos EUA, de Israel, sob minha liderança, e os critérios estabelecidos pela liderança palestina. Acho fundamental examinar as lições dessa rejeição palestina. A centralização na construção de assentamentos, ignorando acordos anteriores, desvia o foco do verdadeiro processo político e da solução de problemas estratégicos na região. A construção de assentamentos deve ser retirada da agenda e debatida em um diálogo discreto, o que vai melhorar nossas relações bilaterais e permitir a solução de questões essenciais. O tempo para tratar de temas importantes está correndo. Não podemos desperdiçá-lo em assuntos que não são prioritários. *Ehud Olmert foi primeiro-ministro de Israel de 2006 a 2009

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