Disparos israelenses matam fotógrafo italiano

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Por Agencia Estado
Atualização:

Um fotógrafo italiano foi morto nesta quarta-feira pelos disparos vindos de um tanque israelense, afirmaram testemunhas, enquanto um fotógrafo francês ficou ferido e um correspondente da TV egípcia foi atingido por um tiro de raspão, em incidentes separados na cidade de Ramallah na Cisjordânia. O fotógrafo francês foi ferido por um estilhaço provocado por um tiro de metralhadora, disse uma testemunha, enquanto o jornalista egípcio não chegou a ficar ferido. O Exército manifestou pesar diante da morte de Raffaele Ciriello, de 42 anos, e dos ferimentos recebidos pelo fotógrafo francês, mas salientou que a investigação em curso ainda não determinou a fonte dos disparos em qualquer um dos incidentes. Ciriello foi o primeiro jornalista estrangeiro a ser morto durante os últimos 18 meses de combates entre israelenses e palestinos. Original de Milão, era um profissional ?free lance" e no momento em que foi baleado estava acompanhado de outro jornalista italiano, Amedeo Ricucci, da TV7, o qual disse que seu colega foi baleado no abdômen e na garganta. "Vimos que um grupo de palestinos chegou correndo, vindo de uma rua lateral, e de repente apareceu atrás deles um tanque a cerca de 200 metros de nós", contou Ricucci. "Estávamos filmando-os quando uma rajada de tiros atingiu Raffaele, que caiu no chão", afirmou Ricucci, lembrando que ambos haviam trabalhado juntos na Somália e no Afeganistão. Os dois italianos estavam com outros jornalistas e fotógrafos, entre eles um produtor da Rai, o ítalo-palestino Amjad Jakba, na praça Manara, no centro de Ramallah, quando de repente vários jovens palestinos chegaram correndo, vindo de outra praça nas proximidades. Segundo o relato de Jakba, os jovens estavam sendo seguidos por um tanque israelense, que após passar pelos jornalistas, parou e começou a disparar uma rajada de tiros. De acordo com fontes médicas palestinas, Ciriello foi atingido pelo menos por seis tiros, um dos quais cortou-lhe a veia aorta. Depois de receber os tiros, ele foi colocado no carro de Ricucci e levado imediatamente para o hospital Arab Care, nas proximidades, onde chegou quase sem vida. "O fotógrafo italiano chegou em condições desesperadoras, fizemos rapidamente uma transfusão de uma unidade de plasma, mas ele precisava de pelo menos mais duas", afirmou o doutor Wael Hammuda, diretor da clínica. "Necessitávamos de mais sangue urgente, e nos dirigimos ao Hospital Geral de Ramallah, mas lá nos responderam que não podiam enviar, porque os soldados israelenses não deixavam passar as ambulâncias", acrescentou. Fontes militares israelenses indicaram que os soldados não perceberam a presença de um grupo de jornalistas; e que durante toda a noite e ao longo da madrugada haviam acontecido enfrentamentos armados na área. Um porta-voz militar afirmou que desde ontem Ramallah foi declarada zona militar fechada. "Neste momento não é possível estabelecer como os jornalistas foram atingidos; em todo caso, o Exército se sente profundamente consternado por cada vítima civil, entre elas a imprensa", sublinhou o porta-voz. O cônsul geral da Itália em Jerusalém, Gianni Ghisi, foi imediatamente para Ramallah a fim de se informar sobre o ocorrido, enquanto a embaixada italiana comunicou-se com as autoridades militares israelenses para pedir um relatório detalhado sobre o que aconteceu. Os restos mortais de Ciriello foram levados para o Hospital Saint Joseph, no leste de Jerusalém. O cônsul Ghisi disse que "existe a vontade de transportá-los para a Itália o mais rápido possível". O fotógrafo italiano era um dos quase 30 jornalistas e fotógrafos internacionais que estavam no Hotel City Inn de Ramallah, que na terça-feira foi atacado por disparos de soldados israelenses. Além de suas atividades como "free lance", Ciriello havia conseguido se credenciar junto à Autoridade Palestina para o jornal italiano Corriere della Sera no dia 9 de março, e estava há pouco tempo nos territórios ocupados. O fotógrafo tinha um site particular na internet (www.ciriello.com), batizado com o nome de Postais do Inferno, onde exibia imagens das muitas guerras e conflitos que havia coberto desde 1992. O presidente da Comissão da União Européia, Romano Prodi, manifestou-se "profundamente entristecido" com a morte do fotógrafo, e pediu aos jornalistas da sala de imprensa da Comissão que façam um minuto de silêncio em sua memória. "Mais uma vez paga com a vida quem procura fornecer ao mundo imagens sobre a verdade, uma verdade trágica como a do Oriente Médio", declarou Prodi.

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