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Disputa eleitoral é atingida por plano de retirada

Cronograma para deixar Iraque até 2011 influencia campanha presidencial

Por AP E REUTERS
Atualização:

O presidente dos EUA, George W. Bush, e o primeiro-ministro iraquiano, Nuri al-Maliki, conversaram ontem por videoconferência para acertar detalhes sobre o cronograma de retirada das tropas americanas do Iraque. Na véspera - durante uma visita da secretária de Estado dos EUA, Condoleezza Rice, a Bagdá -, os dois governos chegaram a um acordo preliminar, pelo qual os soldados americanos comecem a deixar as principais cidades iraquianas em junho do ano que vem e estejam fora do país até 2011. O acordo, que ainda precisa ser ratificado tanto por Washington como por Bagdá, permite que militares americanos continuem no Iraque após o fim deste ano, quando expira o mandato concedido pelo Conselho de Segurança da ONU depois da invasão, em 2003. Os EUA têm atualmente 140 mil militares no conflito e, desde o início da guerra, 4.146 já morreram. Mas enquanto a Casa Branca informava que "as discussões continuam, pois ainda há muitos detalhes pendentes", a notícia do novo cronograma de retirada já influenciava na disputa pela presidência dos EUA. Alguns especialistas acreditam que o acordo poderia erodir parte do charme do candidato democrata Barack Obama, que é contra a guerra. "Um acordo prometendo reduzir a intensidade da guerra no Iraque poderia privar Obama de um tema que atraiu para ele muita atenção e mobilizou os eleitores democratas", disse James McCann, professor de ciência política da Universidade Purdue. Uma das promessas centrais da campanha de Obama é um cronograma de 16 meses para a retirada dos soldados americanos. Já McCain sempre apoiou a guerra no Iraque, bem como o aumento no contingente americano no início de 2007, que ajudou a reduzir a violência e preparar o palco para uma redução no número de forças americanas. "Mas um acordo poderia demonstrar que a proposta de Obama é crível, que de fato é possível estabelecer um acordo", acrescentou o professor. Larry Sabato, diretor do centro político da Universidade de Virgínia, também acredita que uma retirada do Iraque seria benéfica para McCain. "O acordo rebaixa o Iraque na lista de preocupações dos eleitores e enfatiza novamente o sucesso do aumento de tropas, provando que McCain estava certo e Obama errado quanto à intensificação na mobilização militar", disse. Mas Sabato acrescentou que o cronograma poderia também ajudar a campanha de Obama: "É uma faca de dois gumes. Qualquer notícia a respeito do Iraque, boa ou má, lembra as pessoas das 4.000 vidas que perdemos, e do quase US$ 1 trilhão que teremos gasto até finalmente conseguirmos sair de lá." Para Anthony Cordesman, do Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais, se o cronograma for confirmado, os dois candidatos devem afirmar que isso demonstra a qualidade dos seus instintos sobre política externa. "Obama se dirá vingado, já McCain dirá que estava certo quanto ao aumento das tropas e à possibilidade de vitória."

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