Disputa reverte apatia de americanos

Primárias registram substancial aumento na participação dos eleitores e rompem seqüência de desinteresse

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Por Patrícia Campos Mello e WASHINGTON
Atualização:

A falta de candidatos favoritos, a grande oposição dos eleitores à guerra do Iraque e os rumos da economia estão levando um número recorde de eleitores a comparecer nesta temporada de eleições primárias americanas. O caucus de Iowa e a primária de New Hampshire registraram o comparecimento mais alto da história. Em New Hampshire, 526.571 eleitores votaram, bem mais do que o recorde anterior, de 396.385 em 2000. Em Iowa, foram quase 335 mil eleitores, diante de 211 mil em 2000. Num país onde o interesse dos eleitores vinha caindo e o comparecimento às urnas encolhia proporcionalmente, os números foram comemorados por cientistas políticos. Neste ano, todo mundo parece querer votar e dar ao país um banho de democracia, dizem analistas. E eles apostam que os eleitores vão continuar a comparecer em níveis recordes. Tradicionalmente, não mais do que 30% dos eleitores registrados votavam nas primárias - neste ano, foram 50% em New Hampshire. Para Thomas Holbrook, professor de ciência política da Universidade de Wisconsin, a diversidade de candidatos viáveis e a falta de favoritos claros está por trás do grande comparecimento. "Há uma grande empolgação com as eleições deste ano", diz Holbrook. O fato de um negro e uma mulher serem os líderes da disputa democrata também está politizando muitos desmotivados que não votavam havia anos.Em New Hampshire, especialmente, houve um grande aumento no comparecimento de mulheres (que votaram em Hillary Clinton), jovens (em Barack Obama) e independentes (em John McCain). "E os candidatos e partidos chegaram à conclusão de que não basta fazer propaganda, é preciso incentivar os eleitores a saírem de casa e votarem." As técnicas para incentivar o voto, segundo ele, estão cada vez mais elaboradas e consomem grande parte dos recursos das campanhas. "Acredito que a tendência de recordes de comparecimento vá se manter nas próximas eleições primárias, já que a disputa continua acirrada", diz. Para Sunshine Hillygus, professora de governo da Universidade Harvard, a baixa popularidade do governo Bush e a grande cobertura de imprensa de uma disputa muito acirrada ajudam a aumentar o comparecimento. Segundo ela, o comparecimento normalmente é alto nas primeiras primárias e depois cai subitamente, quando começam a se definir os favoritos de cada partido. "Mas desta vez, está tudo tão indefinido que é capaz de não termos um favorito, pelo menos entre os republicanos, nem depois da Superterça (no dia 5, quando haverá primárias em 22 Estados)", diz Sunshine. "Por isso, o comparecimento deve manter-se alto nas próximas fases."

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