Dissidentes cubanos buscam ativista que protestou em missa de Bento XVI

PUBLICIDADE

Por Guilherme Russo
Atualização:

Enquanto o papa Bento XVI chegava a Havana, ontem, no segundo dia de sua visita a Cuba, dissidentes do país exigiam ser informados pelo governo quem era e onde estava um homem que, no dia anterior, foi agredido e detido por seguranças após ter gritado contra o regime socialista pouco antes da primeira missa rezada pelo pontífice em sua visita à ilha.Os telefones fixos e móveis de grande parte dos opositores cubanos continuaram cortados ontem, quando, segundo os dissidentes, a onda de detenções ocorrida na parte oriental do país estendeu-se à capital.Uma TV colombiana transmitiu imagens do homem - moreno, de meia-idade - sendo arrastado diante do altar em que Bento XVI rezaria, em Santiago de Cuba, após gritar suas críticas ao regime da ilha. O repórter afirmou que o manifestante tinha rompido dois cordões de isolamento. Pouco depois, em meio à confusão que se formou, um homem com uma camiseta com o símbolo da Cruz Vermelha deu-lhe um tapa na cara e o golpeou com uma bandeira na cabeça. O manifestante foi protegido e, depois do incidente, não foi mais visto."A Comissão Cubana de Direitos Humanos e Reconciliação Nacional não conseguiu identificar pelo nome o jovem que pronunciou slogans em favor da liberdade e contra o comunismo pouco antes de se iniciar a missa celebrada pelo papa Bento XVI", afirmou em um comunicado a entidade, presidida pelo dissidente Elizardo Sánchez, cujos telefones estavam mudos ontem. "Até o momento, o paradeiro desta pessoa é desconhecido."O papa chegou a Havana por volta das 12 horas locais (10 horas em Brasília). Foi recebido pelo cardeal Jaime Ortega, autoridade máxima da Igreja Católica no país, e se encontrou com o presidente cubano, Raúl Castro, ainda ontem. Apesar de não constar do programa oficial da visita, um encontro entre o pontífice e o líder comunista Fidel Castro é esperado. Hoje, Bento XVI deverá celebrar uma missa na Praça da Revolução.Ainda em Santiago de Cuba, após visitar o Santuário Nacional da Virgem da Caridade do Cobre na manhã de ontem, o papa afirmou que a ilha socialista está "avançando por caminhos de renovação e esperança, para o bem maior de todos os cubanos". "Também supliquei à Virgem Santíssima pelas necessidades dos que sofrem, dos que estão privados de liberdade, separados de seus seres queridos ou passam por graves momentos de dificuldade", disse. "Animo todos os filhos dessa querida terra (...) a trabalhar pela justiça, a ser servidores da caridade e perseverantes em meio às provações."Para a cientista política dissidente Miriam Leiva "as palavras do papa não são palavras que os cubanos estão acostumados a ouvir". "Todas as cores e todas as raças cubanas querem a reconciliação e vão às missas (de Bento XVI) demonstrar isso. Antes, se expressar religiosamente também era proibido por aqui. Os cubanos precisam exercer essa nova liberdade", disse, condenando a retirada do manifestante durante o serviço religioso da segunda-feira e recomendando que o governo "não use a repressão neste momento".Como Miriam, o economista dissidente Oscar Espinosa Chepe relatou ter visto "inúmeras prisões" na manhã de ontem em Havana. "O governo teme que essas missas se tornem protestos (antirregime) com milhares de pessoas e, por sua vez, trata de impingir o medo em manifestantes em potencial, prendendo e cercando os opositores", disse.A dama de branco Alejandrina García afirmou ao Estado que "quase 40" integrantes do movimento de mulheres - que lutou pela libertação dos 75 dissidentes presos na Primavera Negra de 2003 - tinham sido detidas até ontem. / COM AP

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.