Divisão de terras fez produção quintuplicar

Há 30 anos, grupo de 18 camponeses desafiou o governo e pôs fim à coletivização no campo

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Por Cláudia Trevisan
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Os 18 camponeses de Xiaogang que decidiram pôr fim ao sistema de produção coletiva da terra em 1978 colocaram suas impressões digitais em um documento no qual se comprometiam a cuidar dos filhos dos que eventualmente fossem mortos ou presos em razão da mudança. Todos sabiam o risco que corriam. A Revolução Cultural havia terminado apenas dois anos antes e Deng Xiaoping ainda não havia vencido as disputas internas dentro do Partido Comunista para implementar sua agenda de reformas. Com sete filhos para criar, Yan Jin Chang lembra que estava disposto a correr qualquer risco para que sua família tivesse o que comer. "Antes da Libertação (a revolução de 1949), nós não tínhamos comida nem terra. Há 30 anos, nós tínhamos terra, mas não tínhamos comida suficiente", disse Yan Jin Chang ao Estado. Os camponeses concluíram que o problema estava na coletivização, que remunerava todos da mesma maneira, independentemente de seu trabalho, e não estimulava o uso de tecnologia rural. "Nós tínhamos de ter o poder de decidir como cultivar a terra e de poder receber diretamente os benefícios pelo nosso trabalho." Assim que fizeram seu acordo secreto de divisão da terra, os 18 camponeses começaram a pedir dinheiro emprestado para comprar sementes boas e fertilizantes, conta Yan. No ano seguinte, a produção de grãos saltou dos 50 kg por mu de 1978 para 250 kg por mu - cinco vezes mais (um mu equivale a 0,06666667 hectare). "Todos tivemos o que comer e ainda sobrou para vendermos." Em 1978, Guan You Jiang morava com a mulher e os quatro filhos em uma casa de dois cômodos, na qual havia apenas uma cama, onde todos dormiam. "Havia dias em que não tínhamos o que comer e eu era forçado a mendigar", relata. Hoje, ele e a mulher moram em um sobrado de seis cômodos, com pátio interno e um cômodo separado para a cozinha. Do outro lado da rua, seu filho mora em uma casa do mesmo tamanho, onde Guan recebeu a visita do presidente Hu Jintao no início de outubro. A ida de Hu a Xiaogang ocorreu pouco antes da reunião do Comitê Central do Partido Comunista que aprovou a reforma no campo e teve a função de simbolizar o apoio do líder às mudanças, que enfrentavam resistência dentro da organização. Apesar de terem aderido ao sistema de arrendamento, tanto Yan quanto Guan mantiveram pedaços de terra para o cultivo por suas famílias, nos quais investiram parte do que ganharam com os aluguéis. "A maioria dos camponeses não aluga toda a terra e reserva parte para o cultivo de alimentos para suas famílias", disse Guan.

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