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Divisão kirchnerista amplia desafio de Scioli

Após perder domínio da Câmara e província mais importante da Argentina, candidato governista tem de superar divisões se quiser vencer 2.º turno

Por Rodrigo Cavalheiro , correspondente e Buenos Aires
Atualização:
O representante kirchnerista convocou indecisos em seu discurso da vitória Foto: AP Photo/Victor R. Caivano

Depois de perder a província onde estão 37% dos eleitores do país, o domínio da Câmara e ver a oposição mais perto da Casa Rosada, o kirchnerismo apresenta uma divisão que o governista Daniel Scioli deverá reverter se quiser chegar à presidência. A primeira reação à eleição de domingo, na qual Scioli obteve 36,6% dos votos e o conservador Mauricio Macri, prefeito de Buenos Aires, chegou a 34,5%, foi a busca de culpados. O governo confiava em uma vitória no primeiro turno, se atingisse 40% dos votos e abrisse 10 pontos para o segundo colocado. O primeiro a denunciar "traição de fogo amigo" foi Aníbal Fernández, chefe de gabinete de Cristina Kirchner, indicado como candidato a substituir Scioli no governo da Província de Buenos Aires. Sua alta rejeição entre os moderados, por acusações não confirmadas de ligação com o narcotráfico, tiraram 4 pontos porcentuais de Scioli na região que define a eleição nacional. O sistema eleitoral induz o voto em candidatos do mesmo partido para diferentes cargos. Fernández perdeu para a coalizão de Macri, representada pela novata Maria Eugenia Vidal, a maior província do país, que havia 28 anos estava em mãos do peronismo - do qual o kirchnerismo é uma corrente radical. "Houve traição de outros dirigentes, que pagaram em suas regiões o que eu sofri. Não houve casualidade, aqui existiu fogo amigo", afirmou Fernández em sua primeira manifestação sobre o resultado. Ele se referia a Julián Domínguez, kirchnerista que perdeu para ele a primária, em 9 de agosto e, no domingo, foi derrotado na disputa pela prefeitura de Lanús, um símbolo peronista na província.

Uma razão para analistas considerarem a reação de Scioli mais difícil é a perda de cidades como Lanús. Dos 135 municípios da província, os conservadores aliados de Macri governarão 65. O governo perdeu quase metade das cidades que tinha e ficará com 55. Todos esses prefeitos derrotados não teriam a mesma motivação para pedir votos por Scioli. Um dos governantes locais eleitos, Mario Ishii, reconheceu os erros. "A campanha nacional foi dividida da regional. Agora, é preciso caminhar mais e ir menos à TV", disse o futuro prefeito de José C. Paz, um dos municípios mais pobres da província. Conhecido como um peronista moderado, Scioli sofre pressões para afastar-se de Cristina para atrair o voto moderado. Questionado na Rádio 10 se seguiria o conselho que assessores teriam dado de "jogar Cristina pela janela", o candidato respondeu que isso era uma bobagem. "Acredita que farei isso, se há 12 anos pertenço a esse projeto?" Na opinião do sociólogo Ricardo Rouvier, Scioli deve fazer uma campanha centrada nele, um modo de afastar-se de Cristina. "A presidente deve fazer aparições públicas, mas não ser protagonista da campanha", disse ao Estado. Entre as responsabilidades atribuídas à Cristina pelo mau resultado está, além de permitir que Fernández concorresse, ter convocado 44 cadeias nacionais este ano, aparições que até governistas reprovavam. Nas três últimas semanas, quando Scioli mais precisava dos moderados, ela o trouxe para as transmissões em que dava conselhos e atacava a oposição.

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