Documentos comprometem Humala

Justiça da Suíça envia ao Peru novas evidências do esquema de corrupção montado pelo ex-presidente que envolve empresas do Brasil

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Por Jmail Chade , CORRESPONDENTE e GENEBRA
Atualização:

Documentos da Justiça da Suíça revelam que o ex-presidente do Peru Ollanta Humala é suspeito de montar um esquema de corrupção usando financiamento ilegal de campanha e enriquecimento de parentes. Entre as várias fontes de renda, ele chegou a receber mesada de uma empresa brasileira, cujo nome é mantido em sigilo. 

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De acordo com o Tribunal Federal da Suíça, parte do dinheiro foi destinado a suas campanhas à presidência, mas não foi declarada. Outra parcela foi usada pela família Humala para comprar imóveis e financiar gastos pessoais. Humala foi o primeiro ex-presidente preso por conta das revelações da Lava Jato, fatos que ele sempre contestou. 

As investigações vinculadas à Lava Jato do Ministério Público do Peru já levaram para a cadeia o ex-presidente do país, Ollanta Humala, e conseguiram um mandado de prisão contra ex-presidente, Alejandro Toledo, que está foragido. Dois outros ex-chefes do executivo estão sendo investigados Foto: Mariana Bazo/Reuters Foto: Mariana Bazo/Reuters

Para os procuradores peruanos, porém, o caso ganhou força depois de uma longa batalha judicial que resultou na transferência de documentos da Suíça para Lima. No início de abril, o Ministério Público suíço repassou centenas de documentos e extratos bancários que envolvem Humala e sua mulher, Nadine Heredia. As contas eram da irmã do ex-presidente, Ivoska Humala. Apesar de reconhecer a existência de três contas, ela insiste que o dinheiro não tem qualquer relação com Ollanta. 

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Os procuradores peruanos mostraram aos suíços que Ivoska e Nadine trocavam informações por e-mail sobre valores depositados. Os dados chegaram a Lima dois anos e meio após a primeira solicitação. Em razão de recursos apresentados pelos por advogados da irmã do presidente, os documentos só agora foram liberados e serão fundamentais na acusação contra o ex-presidente. 

Segundo a Justiça suíça, a investigação se refere a “irregularidades no financiamento de campanhas de 2006 e 2011”. Humala saiu derrotado em 2006 e venceu em 2011. Para os suíços, a conexão entre a irmã do presidente e o objeto da investigação está clara. Por isso, os dados foram liberados. 

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Os documentos mostram como Ollanta e Nadine declararam “fundos de origem ilegal como contribuições à campanha eleitoral”. “Uma parte das contribuições foi desviada por Nadine para uso pessoal”, indica o documento. Há indícios de que “parte do dinheiro” vinha da extração informal de ouro, doações do governo venezuelano e de empresas brasileiras, que ganhavam contratos milionários.  De acordo com os documentos, parte do dinheiro usado em campanhas não foi declarado ao Escritório Eleitoral Nacional do Peru. “Outra parte dessas contribuições foi utilizada para a compra de imóveis e transferida para contas de empresas especialmente criadas. 

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Uma das empresas brasileiras citadas é a Odebrecht, suspeita de ter feito pagamentos “para as campanhas eleitorais presidenciais do partido (de Humala) em 2006 e 2011”. “Não se pode descartar a possibilidade de que (os pagamentos) tenham sido feitos para favorecer a empresa em uma etapa posterior de licitações públicas.”

Essa não é a primeira vez que a Odebrecht é citada no esquema de corrupção no Peru. Jorge Barata, ex-representante da construtora no país, revelou que, em 2010, Marcelo Odebrecht deu ordens para que a empresa colocasse dinheiro na campanha de Humala. Barata, indicou que quem fez o pedido foi o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. 

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No total, Barata estimou que US$ 3 milhões foram para a campanha de Humala. Consultada, a Odebrecht declarou apenas que “está colaborando com a Justiça” e “implantou um sistema para prevenir, detectar e punir desvios ou crimes”. 

No entanto, a Odebrecht não é a única citada. A Justiça suíça diz que, em 2008, membros do partido de Humala pediram propina a outra empresa brasileira - cujo nome é mantido em sigilo nos documentos. O dinheiro era enviado como “contribuição mensal de US$ 10 mil”. “Mais tarde, essas contribuições foram registradas como pagamentos por serviços de consultoria, que nunca foram realizados”, constatam os suíços. 

Chávez

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Nos documentos, o tribunal suíço faz referências à ajuda que o governo de Hugo Chávez prestou a Humala, ainda em 2006, em sua primeira eleição. “A campanha presidencial em 2006 também recebeu apoio financeiro do então presidente venezuelano, Hugo Chávez”, segundo a corte. Apesar de não revelar os valores, ela indica que os pagamentos ocorreram por meio de uma empresa. “Assim, há a suspeita de que fundos públicos da Venezuela tenham sido desviados para tal fim.”

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