Documentos sugerem que EUA foram coniventes com tortura no Iraque

Arquivos secretos divulgados pelo site Wikileaks indicam que americanos não investigaram abusos praticados por policiais iraquianos.

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Por BBC Brasil
Atualização:

Arquivos revelam mortes de centenas de civis em postos de controle O site Wikileaks divulgou nesta sexta-feira documentos secretos que indicariam que as Forças Armadas dos Estados Unidos praticaram no Iraque execuções sumárias, crimes de guerra e se omitiram diante de denúncias de tortura praticada por autoridades iraquianas desde a invasão do país, em 2003. Segundo o jornal britânico Guardian, um dos veículos que tiveram acesso aos cerca de 400 mil documentos, os arquivos relatam, entre outros episódios, que um helicóptero militar americano matou insurgentes iraquianos após eles terem tentado se render; que mais de 15 mil civis morreram em incidentes até então desconhecidos; e que "centenas" de civis foram mortos em postos de controle do Exército americano. De acordo com o jornal, embora os Estados Unidos neguem manter dados sobre mortes de civis, os documentos indicam que houve 66.801 mortes de não-combatentes no Iraque. O jornal ainda menciona relatos de abusos de detentos, muitos embasados por exames médicos, que descrevem prisioneiros algemados, vendados e pendurados pelos punhos ou tornozelos que teriam sido submetidos a chicotadas, socos, chutes e choques elétricos por soldados e policiais iraquianos. Segundo o Guardian, seis relatos terminam com a morte aparente do detento. O repórter da BBC Adam Brookers, que passou horas examinando os arquivos, diz que os documentos indicam que os militares americanos sabiam dos abusos, mas escreveram nos documentos em que eles eram relatados "não investigar" ao repassá-los a autoridades superiores. As suspeitas sobre a divulgação dos arquivos recaem mais uma vez sobre Bradley Manning, o mesmo analista de inteligência do Exército americano que é investigado por supostamente ter repassado ao Wikileaks, em julho, mais de 70 mil documentos secretos sobre o envolvimento dos Estados Unidos na Guerra do Afeganistão. Condenação A secretária de Estado americana, Hillary Clinton, criticou o mais recente vazamento de dados secretos, o maior na história americana. Falando a repórteres em Washington antes da divulgação, ela condenou "nos mais claros termos a divulgação de qualquer informação por indivíduos ou organizações que ponham em risco as vidas de americanos, seus parceiros e civis". A divulgação de dados realizada em julho pelo Wikileaks fez com que autoridades militares americanas alertassem para o risco de mortes tanto de soldados quanto de civis, pois os papeis continham nomes de afegãos que haviam colaborado com as forças aliadas. No entanto, o secretário de Defesa dos Estados Unidos, Robert Gates, disse em uma carta a um comitê do Senado que o vazamento não havia revelado "fontes ou métodos delicados de inteligência." O presidente Barack Obama também afirmou à época que o dossiê não trazia novidades. O criador do Wikileaks, o australiano Julian Assange, está sendo investigado por estupro na Suécia. Ele nega as acusações e se diz vítima de uma campanha de difamação orquestrada por opositores do site. BBC Brasil - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito da BBC.

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