Doze morrem em ato anti-Chávez e oficiais se rebelam

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Por Agencia Estado
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Um grupo de oficiais venezuelanos se rebelou nesta quinta-feira contra a autoridade do presidente da Venezuela, Hugo Chávez, e exigiu sua renúncia em um comunicado divulgado pela tevê Venevisión. Separadamente, o comandante do Exército, general Efraín Vásquez Velasco, se declarou contra o governo por causa do "atropelo" sofrido pela sociedade civil. Vásquez pediu "perdão" à população, disse que sua atitude "não era um golpe de Estado" e afirmou que se pôs contra Chávez "porque os mortos de hoje não se pode tolerar". As declarações foram feitas depois que uma gigantesca marcha de pelo menos 150.000 manifestantes pela renúncia de Chávez terminou em Caracas com pelo menos 12 mortos e 110 feridos - versões não confirmadas apontam para um número ainda maior de mortos e feridos. Em meio ao tumulto, tanques foram posicionados em torno do palácio presidencial. "Decidimos nos dirigir ao povo venezuelano para desconhecer o atual regime do governo e a autoridade de Hugo Chávez Frias e do alto comando militar", afirmou um grupo de dez oficiais da ativa do Exército, Aeronáutica, Guarda Nacional e Marinha, segundo o texto lido por um jornalista. "Não podemos aceitar um tirano na presidência. Sua permanência no cargo ameaça o país com a desintegração", acrescentaram eles, liderados pelo almirante Héctor Ramírez Pérez, chefe do Estado-Maior da Marinha. Outros 31 oficiais manifestaram adesão ao comunicado. Horas depois, o general da Guarda Nacional e vice-ministro da Segurança do Cidadão, Luis Camacho Kairuz, também pediu, em entrevista, a renúncia de Chávez: "A partir deste momento, este governo tem de acabar." Camacho pediu a formação de uma "junta provisória de governo" e anunciou a própria renúncia. Os generais, brigadeiros e almirantes rebelados condenaram Chávez e seu governo "por contrariar os princípios e garantias democráticas" e "menosprezar os direitos humanos dos venezuelanos". A violência entre a polícia e os manifestantes começou depois que Chávez anunciou o fechamento de cinco estações privadas de TV, alegando que elas haviam abusado da liberdade de expressão e incitado os protestos da oposição. Mas quatro das cinco tevês, por sinal via satélite, transmitiram uma mensagem dizendo: "Neste momento, a Venevisión, a Rádio Caracas Televisión (RCTV) a Televen e a CMT (Canal Máximo de Televisión) foram forçadas a sair do ar pelo governo nacional." A Guarda Nacional lançou bombas de gás lacrimogêneo contra os manifestantes para mantê-los longe do Palácio de Miraflores e de milhares de partidários de Chávez. Durante a confusão, vários disparos foram feitos perto do palácio presidencial. Segundo testemunhas, franco-atiradores postados nos telhados de prédios próximos à sede do governo dispararam contra a multidão. O jornalista Jorge Tortoza, fotógrafo do Diario 2001, levou um tiro na cabeça durante um enfrentamento confuso entre membros da Guarda Nacional e da Polícia Metropolitana. Segundo um colega de Tortoza, o autor do disparo foi um homem em roupas civis. Outros dois jornalistas, Enrique Hernández, da agência oficial Venpres, e Jonathan Freitas, do jornal Tal Cual, também foram feridos a tiro. Chávez disse hoje que ordenou que o palácio presidencial de Miraflores fosse cercado pelos militares para proteger seus simpatizantes da marcha opositora que tentava tirá-lo do poder. Ele qualificou de "irresponsabilíssima" a convocação de greve geral feita por uma aliança sindical e patronal, que exige sua renúncia. Chávez disse em uma mensagem em rede nacional de rádio e TV que "não tem problema" em abandonar o governo se for derrotado em um referendo consultivo sobre sua permanência à frente do Executivo. A decisão de cinco tevês de dividir a tela, transmitindo a mensagem de Chávez, a primeira aparição em público em 48 horas, e cenas dos distúrbios, teria levado o presidente a ordenar a interrupção de seus sinais. A violência irrompeu no terceiro dia de greve geral convocada em apoio a executivos da estatal Petroleos de Venezuela (PdVSA). Eles querem que Chávez demita a atual direção da companhia, que foi indicada há dois meses por interesses políticos. Os executivos estão conduzindo uma "operação tartaruga" que tem prejudicado seriamente a produção e a exportação de petróleo na Venezuela, o quarto exportador mundial e o terceiro maior fornecedor dos EUA. As greves perturbaram os lucrativos embarques de petróleo. Algumas fontes do mercado estimam que a paralisação parcial de atividades, que já dura oito dias, reduziu entre um terço e metade as exportações diárias de petróleo da Venezuela. A PdVSA é a coluna vertebral da economia nacional, já que é responsável pela metade dos fundos dos cofres do governo.

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