Duterte diz que estupro vai existir enquanto mulheres bonitas existirem

Presidente filipino deu declaração polêmica quando falava sobre altas taxas do crime em uma das principais cidades do país

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Por Redação
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MANILA - Grupos de direitos das mulheres atacaram o presidente das Filipinas, Rodrigo Duterte, nesta sexta-feira, 31, depois de ele sugerir que o estupro é um crime inevitável enquanto houver mulheres bonitas. Em um discurso na noite da quinta-feira, 30, na cidade de Mandaue, Duterte atacou seus críticos e defendeu que, enquanto prefeito de Davao, ele havia erradicado o crime na cidade. "Eles disseram que há muitos casos de estupro em Davao. Enquanto houver mulheres bonitas, haverá mais casos de estupro", declarou.

O presidente dasFilipinas, Rodrigo Duterte, disse não gostar de nomear mulheres para os cargos importantes do seu governo. Ele já esteve envolvido em outras situações consideradas machistas, sexistas e misóginas. Foto: AP Photo/Ahn Young-joon

Duterte assumiu a presidência do país em 2016 e, desde então, tem chegado às manchetes do mundo por dois motivos - a violenta repressão a usuários de drogas e traficantes, que matou milhares; ou a propensão a fazer declarações consideradas ofensivas, muitas vezes sobre violência contra mulheres. "Em vez de abordar o problema de maneira séria, o misógino Duterte acrescentou um insulto às cicatrizes de vítimas que sobreviveram ao estupro", disse o grupo de mulheres #BabaeAko (Eu Sou Mulher, em filipino), em declaração.

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Argumentando que o estupro não tem nada a ver com aparências físicas, o #BabaeAko acusou Duterte de envergonhar as vítimas e culpar as mulheres pelos estupros que sofrem. "O estupro é um crime hediondo baseado na falsa suposição de que mulheres são bens, devem ser possuídas, devem ser punidas de acordo com os caprichos dos homens", disse o texto.

Em seus comentários, o presidente pareceu se referir a um relatório recente produzido pela Polícia Nacional das Filipinas. O documento apontou que Davao registrou o número mais alto de estupro entre as principais cidades do país no segundo trimestre do ano. Segundo a polícia, 42 casos foram registrados na cidade entre abril e junho. Críticos afirmam que os dados mais recentes, por si só, abalam o mito vendido pelo presidente de que Davao está livre do crime e é a cidade mais segura do país.

O porta-voz do presidente, Harry Roque, tentou limitar as consequências dos comentários do presidente, sugerindo que o líder não é misógino, já que apontou diversas mulheres para cargos-chave em seu governo. "Não acho que deveríamos dar muito peso ao que o presidente diz brincando", disse Roque, acrescentando que moradores da região sul das Filipinas tendem a se ofender menos facilmente do que seus compatriotas na capital. "Eles não ficam tranquilos com piadas sobre estupro, mas vamos apenas dizer que talvez o padrão do que é ofensivo e o que não é ofensivo é mais liberal no sul", declarou.

Essa não foi a primeira vez que Duterte faz declarações rebaixando mulheres. Durante sua campanha presidencial, ele brincou sobre o estupro coletivo de uma missionária australiana durante uma rebelião em uma prisão, sugerindo que, por ser prefeito, ele deveria ter tido a oportunidade de ser o primeiro a violentar a mulher. Além disso, ele chegou a chamar a própria filha, Sara Duterte, de "rainha do drama" quando ela confessou que fora vítima de uma agressão sexual.

No ano passado, Duterte ordenou a soldados que atirassem em guerrilheiras comunistas em suas vaginas, para desencorajá-las a se juntar ao Exército do Povo Novo, força rebelde insurgente que trava uma batalha no país desde 1969. O presidente ainda afirmou ter visto o vídeo de uma de suas principais opositoras, a senadora Leila de Lima, fazendo sexo. Ela atualmente cumpre pena de prisão pelo que ela alega ser uma acusação forjada de que protegeria líderes do tráfico de drogas.

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"Esse país não merece um presidente que voluntariamente rompa nossas leis e incentive outros a fazerem o mesmo", disse o grupo #BabaeAko. "Pedimos a todos os filipinos que se levantem contra um presidente que cospe em tudo pelo que nossos ancestrais lutaram e morreram". / NYT

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