E se George W. Bush não tivesse invadido o Iraque? Leia a análise

Governo Bush mergulhou os EUA e seus aliados em uma guerra e eventual ocupação que redesenhariam o mapa político do Oriente Médio

PUBLICIDADE

Foto do author Redação
Por Redação
Atualização:

 Boa parte da população americana e do establishment político varrido pela pressa do governo George W. Bush não perdeu tempo interrogando a conexão implícita entre os eventos de 11 de Setembro e a decisão de invadir “preventivamente” o Iraque menos de dois anos depois, para derrubar o ditador Saddam Hussein. Uma pesquisa do Washington Post em setembro de 2003 descobriu que cerca de 7 em cada 10 americanos acreditavam que era pelo menos “provável” que Hussein estivesse diretamente envolvido nos ataques.

PUBLICIDADE

É claro que tudo isso se provou absurdo, como grande parte do argumento de Bush e seus aliados sobre a ameaça iminente representada pelas fantasiosas armas de destruição em massa do regime iraquiano.

Animado por um zelo neoconservador para derrubar regimes inimigos e exercer o poder americano – e desimpedido pelo grosso da imprensa de Washington – o governo Bush mergulhou os EUA e seus aliados em uma guerra e eventual ocupação que redesenhariam o mapa político do Oriente Médio, desviariam a atenção da intervenção no Afeganistão e provocariam novos ciclos de caos e violência.

Donald Rumsfeld (esq), George W. Bush e Dick Cheney em 2006 Foto: Tim SLOAN / AFP

Os primeiros dois anos após o 11 de Setembro marcaram “uma era em que os EUA cometeram grandes erros estratégicos”, disse Vali Nasr, professor de assuntos internacionais da Escola de Estudos Internacionais da Universidade Johns Hopkins, ao Today’s WorldView. “Sua visão foi nublada pela raiva e pela vingança.”

Mas e se os EUA tivessem optado por não invadir o Iraque? A decisão de derrubar Hussein, ainda mais do que a invasão do Afeganistão, gerou uma guerra não provocada que, por um lado, isolou uma série de outras opções políticas disponíveis para os estrategistas de Washington e, por outro, desencadeou eventos que alteraram fundamentalmente a região. É impossível reverter o que o governo Bush disparou, mas podemos especular sobre alguns elementos dessa proposição contrafactual.

Entre eles, há o número de mortos no Iraque. O Watson Institute da Brown University calcula que algo entre 184.382 e 207.156 civis iraquianos foram mortos diretamente por causa da violência relacionada à guerra entre o início da invasão americana, em março de 2003, até outubro de 2019. Mas o número verdadeiro pode ser maior.

Mesmo considerando o longo histórico de brutalidade de Hussein, é difícil imaginar um futuro de maior sofrimento para o povo iraquiano se os EUA não o tivessem retirado do poder, argumentou Sinan Antoon, poeta e escritor iraquiano radicado em Nova York. “Se o regime tivesse permanecido no poder, dezenas de milhares de iraquianos ainda estariam vivos hoje, e não nasceriam, todos os dias, crianças com defeitos congênitos em Fallujah”, disse Antoon ao Today’s WorldView, aludindo ao impacto dos cartuchos de urânio empobrecido que as forças americanas supostamente usavam em suas batalhas no Iraque. 

Publicidade

Antoon acrescentou que, se os EUA não tivessem invadido, também não teríamos visto a ascensão do Estado Islâmico – uma convicção compartilhada pelo ex-presidente Barack Obama e ecoada por uma miríade de especialistas. 

Henry Kissinger explica por que apoiou a Guerra do Iraque: “porque o Afeganistão não era suficiente”. “No conflito com o islã radical, eles querem nos humilhar. E nós precisamos humilhá-los.”/ TRADUÇÃO DE RENATO PRELORENTZOU

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.