O peruano que consome um sofisticado ceviche, fã de patas de porco à vinagrete e mesmo o que encara a carne de gato, apreciada em algumas cidades, têm algo em comum. Todos choram de barriga cheia quando o tema é economia.
Empresários se queixam da redução do crescimento nos dois últimos anos de governo de Ollanta Humala da queda dos investimentos externos. Operários criticam terceirizações que baixaram a qualidade do emprego e nenhum presidente posterior a Alberto Fujimori conseguiu reverter – Humala era uma esperança nessa área ao assumir como esquerda moderada.
Há uma sensação de desaceleração que os número comprovam. Enquanto o crescimento nos três primeiros anos de mandato ficou, em média, em 6,1% por ano, em 2014 e 2015 a média caiu para 2,5%. Uma situação de dar inveja à maioria dos países da América Latina. O Banco Mundial prevê crescimento de 3,3%, para 2016, e de 4,5%, para 2017, mas analistas creem que dependerá do nome que começa a ser escolhido hoje.
“Keiko Fujimori e Pedro Pablo Kuczynski devem ser bem recebidos pelo mercado. Verónika Mendoza teria de moderar seu discurso radical, até porque precisaria de apoio rival no Congresso, que deve ter fujimoristas em maioria”, avalia o economista e consultor José Carlos Raquena. Ele menciona os três primeiros colocados na maioria das pesquisas.
A redução do crescimento nos dois últimos anos é creditada, em parte, à baixa no preço das commodities, mas também à perda de liderança de Humala, que trocou várias vezes de gabinete e viu sua aprovação ficar abaixo dos 15%.
Parte do empresariado que banca a campanha de Keiko vê no controvertido mandato de seu pai, Alberto Fujimori, o início da abertura econômica que teria levado ao crescimento regular a partir dos anos 2000.
“Ele realmente teve um primeiro período com medidas de contenção elogiadas, mas seu segundo ciclo foi de populismo irresponsável, que ainda encontrou, em 1998, uma grande crise”, diz Raquena.
Na avaliação do cientista político Francisco Belaúnde Matossian, da Universidade Científica do Sul, o mandato de Fujimori deixou um legado “monstruoso” em termos de direitos humanos, que coincidiu com um período de desenvolvimento econômico. Em 1994 e 1995, quando se reelegeu, o país cresceu 12,3% e 7,4%, respectivamente. Em 1992, ele havia fechado o Congresso e dado um golpe referendado pela população com a provação de uma nova Constituição, em 1993.