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Efeito de sanções na Rússia ajuda a elevar tensão entre rivais

Governo russo tenta aliviar impacto de medidas americanas na economia do país

Por Neil Macfarquhar e MOSCOU 
Atualização:

Comparadas com paraísos fiscais ensolarados, duas ilhas russas geladas não oferecem muita coisa. No entanto, a Ilha Outubro, um pântano drenado dentro da cidade de Kaliningrado, e a Ilha Russky, região de pastagem de gado em Vladivostok, foram escolhidas por Moscou como alternativas.

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Retrato de Putin à venda em Kaliningrado: sanções levam incerteza à Rússia Foto: REUTERS/Sergei Karpukhin

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As recentes sanções contra vários oligarcas russos mudou as regras do jogo para a Rússia, com repercussões que lentamente ficam mais visíveis. A criação de paraísos fiscais dentro do país foi uma resposta do Kremlin, pego de surpresa com os efeitos que se propagam para os mercados financeiro e monetário. “A Rússia não tem nenhuma estratégia para reagir a essas novas circunstâncias econômicas”, disse Evgueni Gontmakkher, economista que faz oposição ao governo russo. 

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O efeito mais imediato foi sentido por Oleg Deripaska e sua empresa de alumínio, a Rusal, que perdeu um terço do valor na Bolsa de Moscou. Mas as sanções afetaram também os russos milionários de Londres, uma vez que Washington alertou os bancos britânicos que poderiam sofrer duras penalidades se negociassem com qualquer um dos 24 russos atingidos pelas medidas punitivas.

Paradoxalmente, as sanções devem ajudar o presidente Vladimir Putin a cumprir seu objetivo de submeter mais uma parte da economia ao controle estatal e pressionar os bilionários a trazerem seu dinheiro de volta. Ao mesmo tempo, as medidas são contrárias aos interesses de Putin, pois obrigam alguns milionários a decidir o quão próximo desejam ficar do Kremlin, financiando milícias e organizações políticas. 

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Empresários e funcionários russos atingidos pelas sanções dos Estados Unidos: Oleg Deripaska, Vladimir Bogdanov, Suleiman Kerimov, Kirill Shamalov, Viktor Vekselberg, Mikhail Fradkov, Sergei Fursenko, Alexei Dyumin, Vladimir Kolokoltsev, Konstantin Kosachev,Andrei Kostin, Alexei Miller, Nikolai Patrushev, Vladimir Ustinov, Viktor Zolotov. Foto: REUTERS/Files

“Qualquer pessoa que queira ajudar o Kremlin fora do país pensará duas vezes”, disse Konstantin Gaaze, analista do Moscow Carnegie Center. No geral, as sanções devem ter um efeito limitado, porque atingem apenas algumas empresas. A resposta do governo foi débil, com Dmitri Peskov, porta-voz de Putin, dizendo que “seria errado adotar medidas apressadas” e prevendo que o rublo se recuperará assim que as coisas se acalmarem.

Diante do porte pequeno da economia russa – cerca de 2% do PIB global – e do comércio limitado que mantém com os EUA, não há expectativas de retaliação econômica. De acordo com analistas, qualquer resposta russa virá em lugares como Síria ou Ucrânia, onde o Kremlin tentará intensificar a tensão. Com a possível intervenção americana na Síria, surge uma chance para Moscou dar uma resposta. 

A Rússia errou em achar que nenhuma sanção importante seria imposta. “As pessoas acharam que era uma piada, mas agora ficou claro que a situação é grave”, afirmou o economista Vladislav Zhukovski. Os dois empresários russos mais importantes incluídos na lista são Deripaska, cuja empresa emprega 60 mil pessoas, e Viktor Vekselberg, um dos homens mais ricos do país, cujos projetos incluem a implementação de um setor de tecnologia na Rússia.

As sanções foram impostas contra 7 oligarcas, 12 empresas controladas por eles e 17 autoridades do governo que lucraram com as “atividades perniciosas” do Estado russo, segundo o Tesouro dos EUA. Outras possíveis sanções vêm sendo projetadas. 

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No Congresso dos EUA, tramita um projeto de lei que proíbe os americanos de realizarem qualquer negócio com a dívida soberana russa. No fim, a consequência mais importante é a incerteza que agora envolve todos os negócios da Rússia com o Ocidente. “Existe uma grande possibilidade de que este seja apenas o início da campanha”, afirmou Gontmakher.

O governo russo pretende por fim a essa incerteza fornecendo todo tipo de apoio necessário para manter as empresas funcionando. “O principal agora é minimizar a incerteza e, ao mesmo tempo, assegurar o funcionamento estável das companhias, onde trabalham centenas de milhares de pessoas”, disse Arkadi Dvorkovich, vice-primeiro-ministro russo.

Para muitos analistas, o Kremlin deve adquirir a Rusal, por exemplo, rebatizá-la – para evitar que ela seja estigmatizada nos mercados mundiais – e vender o alumínio a preços mínimos para manter os russos empregados. O que pode muito bem prover um salário multibilionário para Deripaska. / TRADUÇÃO DE TEREZINHA MARTINO

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