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Egípcios desafiam toque de recolher e militares nas ruas

Governo estendeu toque de recolher a todo o país; sede do partido do presidente foi incendiada.

Por Tariq Saleh
Atualização:

Milhares de manifestantes egípcios, que realizam protestos contra o governo do presidente Hosni Mubarak, estão desafiando um toque de recolher imposto no país nesta sexta-feira, apesar da presença de militares nas ruas. Inicialmente aplicado em três cidades (Cairo, Suez e Alexandria), a medida foi estendida a todo o território egípcio no início da noite (hora local, à tarde no Brasil), refletindo uma intensificação nos protestos durante o dia. Mais cedo, serviços de internet e telefonia celular foram aparentemente bloqueados no país. No Cairo, a capital egípcia, manifestantes atearam fogo na sede do Partido Nacional Democrático, mesma agremiação de Mubarak, e cercaram os prédios do Ministério das Relações Exteriores e da TV estatal. A emissora anunciou que o toque de recolher vigoraria entre as 18h desta sexta-feira e as 7h do sábado e que militares trabalhariam em conjunto com os policiais para reforçar a ordem. Espera-se que Mubarak, que está no poder desde 1981 e não foi visto em público desde o início das manifestações, faça um pronunciamento nas próximas horas. Militares A TV egípcia transmitiu a chegada ao Cairo de tropas militares e de blindados. Ao passar pelos manifestantes, muitos soldados acenavam para a multidão. As manifestações desta sexta-feira - de proporção sem precedentes na história do Egito - se seguem a três dias de protestos, em que ao menos oito pessoas morreram e mais de mil foram presas. As ações foram inspiradas em uma onda de protestos populares que culminou com a queda do presidente da Tunísia, Zine Al-Abidine Ben Ali, há duas semanas. No Cairo, policiais entraram em confronto com milhares de manifestantes nas ruas, usando bombas de gás lacrimogêneo e canhões d'água para dispersar a multidão, que respondeu atirando pedras, queimando pneus e montando barricadas. A BBC Brasil acompanhou alguns embates e viu policiais à paisana baterem em mulheres que caminhavam perto da multidão. Conforme a noite avançava, helicópteros sobrevoavam a capital e tiros eram ouvidos. Nesta sexta-feira, a secretária de Estado americana, Hillary Clinton, exortou as autoridades egípcias a permitir protestos pacíficos. "Estamos profundamente preocupados com o uso da violência pela polícia e força de seguranças egípcias contra manifestantes", disse Hillary. "Ao mesmo tempo, os manifestantes devem evitar a violência e se expressar de forma pacífica", afirmou. O Egito é um dos mais importantes aliados dos Estados Unidos no mundo árabe. Outras cidades Em Suez, um grupo invadiu uma delegacia de polícia, roubou armas e ateou fogo ao prédio. Choques também foram registrados nas cidades de Alexandria, Mansoura e Assuã, assim como Minya, Assiut, Al-Arish e na Península do Sinai. Locais onde têm ocorrido os protestos no Egito Há relatos de que centenas de líderes da oposição foram presos durante a madrugada. Ao menos dez pertenceriam à organização Irmandade Islâmica, banida pelo governo. Outros relatos dão conta de que o líder da oposição e Nobel da Paz Mohamed ElBaradei estaria sendo mantido em prisão domiciliar, mas a versão não foi confirmada oficialmente. ElBaradei, ex-diretor da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), chegou ao Cairo na quinta-feira para se juntar às manifestações. Comunicações Na noite de quinta-feira, sites como Facebook ou Twitter começaram a apresentar problemas no país, assim como o envio de mensagens por celular. A operadora de celulares Vodafone Egypt disse em nota: "Todas as operadores de celular no Egito foram instruídas a suspender seus serviços em áreas selecionadas. De acordo com a legislação egípcia, as autoridades têm o direito de emitir tal ordem e nós somos obrigados a cumpri-la". Ao menos oito pessoas morreram e mais de mil foram presas nos protestos O governo do Egito quase não dá espaço a posições contrárias à oficial, e manifestações da oposição são frequentemente proibidas. Entretanto, na quinta-feira, Safwat El-Sherif, secretário-geral do Partido Nacional Democrático, disse que o PND "está pronto para o diálogo com o público, a juventude e os partidos legais". "Mas a democracia tem suas regras e seus processos. A minoria não pode forçar seu desejo sobre a maioria". Em nota sobre as manifestações em curso no Egito, na Tunísia e no Iêmen, outro país árabe que tem vivenciado turbulências, o governo brasileiro expressou sua "expectativa de que as nações amigas encontrarão o caminho de uma evolução política capaz de atender às aspirações da população em ambiente pacífico e sem interferências externas, de modo a dar suporte ao desenvolvimento econômico e social em curso". BBC Brasil - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito da BBC.

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