Egito pressiona com referendo para Constituição apesar de protestos

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Por ALISTAIR LYON E YASMINE SALEH
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A oposição do Egito convocou protestos em massa nesta terça-feira contra a tentativa do governo liderado por islâmicos de realizar um referendo rápido sobre uma nova Constituição depois de eliminar os obstáculos judiciais. O presidente Mohamed Mursi provocou uma onda de protestos quando assumiu temporariamente poderes extraordinários em 22 de novembro para evitar que um Judiciário ainda dominado por membros indicados pelo antecessor deposto Hosni Mubarak tirassem dos trilhos uma transição política conturbada. A polícia de choque se reuniu em torno do palácio presidencial depois que ativistas disseram que iriam marchar em direção a ele no final do dia em um "último aviso" para Mursi, um islamista eleito em uma votação popular apertada em junho. Poucas centenas de manifestantes se reuniram perto de sua casa em um subúrbio a oeste do Cairo, gritando slogans contra o seu decreto e contra a Irmandade Muçulmana. A polícia fechou a estrada para impedi-los de chegar mais perto, informou um oficial de segurança. Liberais, esquerdistas, cristãos e outros acusaram Mursi de encenar uma tomada de poder ditatorial para empurrar uma constituição redigida por uma assembléia lotada de islamistas. Os jornais independentes mais lidos do Egito não foram publicados nesta terça-feira em protesto contra a "ditadura" de Mursi. Bancos planejavam fechar três horas mais cedo, informou um funcionário de banco. Contudo, até agora tem havido apenas uma resposta limitada aos pedidos da oposição para uma campanha de desobediência civil no país mais populoso e centro cultural do mundo árabe. "A Presidência acredita que a oposição é muito fraca e sem força. Hoje é o dia em que vamos lhes mostrar que a oposição é uma força a ser reconhecida", disse Abdelrahman Mansour na Praça Tahrir, do Cairo, o berço da revolta anti-Mubarak. Os islâmicos, que já tiraram o Exército da condução política, sentem que chegou o seu momento de moldar o futuro do Egito, um antigo aliado dos EUA, cujo tratado de paz com Israel é uma pedra angular da política de Washington no Oriente Médio. A Irmandade Muçulmana e seus aliados, que realizaram uma enorme manifestação pró-Mursi no sábado, está confiante de que membros suficientes do Judiciário estarão disponíveis para supervisionar o referendo de 15 de dezembro, apesar dos apelos de alguns juízes para um boicote. NÃO HÁ TEXTO PERFEITO O primeiro-ministro Hisham Kandil, um tecnocrata com simpatia pelos islâmicos, disse em uma entrevista à CNN: "Nós certamente esperamos que as coisas se acalmem depois que o referendo seja concluído". Ele disse que a Constituição não era "de nenhuma maneira um texto perfeito" que todos tinham acordado, mas que um "consenso da maioria" favorecia o avanço com o referendo dentro de 11 dias. A Irmandade Muçulmana, agora no poder através das urnas pela primeira vez em oito décadas de luta, quer proteger seus ganhos e parece estar pronta para superar os protestos de rua pelo que vê como uma minoria não representativa. Ela também está determinada a parar os tribunais, que já dissolveram a Câmara Baixa do Parlamento liderada por islâmicos, de impor mais obstáculos em seu projeto de mudança. Mohamed ElBaradei, o coordenador da opositora Frente de Salvação Nacional, disse que Mursi deve rescindir seu decreto, abandonar os planos para o referendo e concordar com uma nova assembléia constituinte, mais representativa, para elaborar uma Constituição democrática. Em um artigo de opinião publicado no Financial Times, ele acusou Mursi e a Irmandade de acreditar que "com algumas pinceladas de uma caneta, pode levar (o Egito) de volta ao coma".

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