Egito teria feito 'teste de virgindade' em mulheres manifestantes

Ativistas e blogueiros planejam protesto virtual na quarta para condenar a ação

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CAIRO - Ativistas e blogueiros estão pressionando o comando militar do Egito para investigar acusações de abusos sérios contra manifestantes, incluindo alegações de que soldados teriam submetido presas aos chamados "testes de virgindade". Os blogueiros prometem um dia de protesto virtual na quarta-feira, 1, para condenar a ação. Em fevereiro, o presidente Hosni Mubarak renunciou em meio a intensos protestos no Egito, e o Conselho Supremo das Forças Armadas passou a comandar a nação árabe.

 

 

As acusações sobre "testes de virgindade" apareceram após uma manifestação em 9 de março tornar-se violenta na praça Tahrir, quando policiais à paisana atacaram civis e o Exército interveio para esvaziar o local. Uma mulher detenta falou sobre o incidente, e a Anistia Internacional documentou as acusações em um relatório segundo o qual 18 presas teriam sido ameaçadas com acusações de prostituição e tiveram de passar por testes a fim de comprovar que eram virgens. Elas teriam ainda sido agredidas e recebido choques elétricos, segundo o relatório.

 

Ritmo lento

 

O comando militar foi alvo de muitas críticas dos jovens que protestavam. A juventude egípcia reclama também do ritmo lento das reformas. Desde a queda de Mubarak, em 11 de fevereiro, os militares lideraram a repressão a protestos pacíficos. Críticos acusam os militares de não garantir a volta da segurança às ruas, e também por não lançarem um diálogo nacional.

 

Na última sexta-feira, manifestantes voltaram à praça Tahrir para exigir que os militares acelerem a transição para a democracia no país. Eles chamaram o protesto de "Segunda Revolução", em referência ao processo que derrubou Mubarak, segundo a Efe. Os manifestantes pressionam o Conselho Supremo das Forças Armadas para por fim aos julgamentos militares no Egito.

 

Homens e mulheres juntos

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No final de março, o general Ismail Etman, porta-voz do conselho que comanda o país, negou que o governo tenha reprimido uma manifestação em 9 de março. Ele criticou, porém, o fato de mulheres e homens estarem juntos durante manifestações. "Havia garotas com jovens homens em uma tenda. Isso é racional? Havia drogas. Prestem atenção!", afirmou Etman na ocasião. Ele confirmou que policiais militares prenderam 17 mulheres - de um total de 170 pessoas - no ato de 9 de março.

 

Uma das mulheres presas, Salwa al-Husseini, deu detalhes em uma entrevista coletiva em março sobre o tratamento e afirmou que teve de fazer um teste para comprovar que era virgem. Ela afirmou ter sido agredida no rosto e levado choques nas pernas ainda na praça Tahrir, antes de ser levada a uma prisão militar.

 

'Fabricar acusações'

 

A jovem afirmou que ela e as outras detidas foram levadas para um quarto com duas portas e uma janela, sendo que as portas estavam totalmente abertas. "As garotas tinham de tirar toda sua roupa para a revista, enquanto havia câmeras do lado de fora filmando para fabricar acusações de prostituição contra nós", afirmou. "A garota que dizia ser virgem era submetida a um teste por alguém. Nós não sabemos se ele era um soldado ou algum garoto em nome deles (militares)", relatou.

 

A Anistia Internacional divulgou em seu relatório que uma mulher afirmou aos militares ser virgem, porém acabou agredida e recebeu choques quando o teste supostamente mostrou o contrário. "Forçar mulheres a realizar 'testes de virgindade' é completamente inaceitável", denunciou a entidade. "Isso tem o propósito de degradar a mulher, (simplesmente) porque elas são mulheres".

 

Com Agência Estado e Efe

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