El Salvador celebra beatificação de bispo morto em 80

Dom Oscar Romero, que dedicou os últimos anos à defesa dos direitos humanos, será, em breve, canonizado e declarado santo

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Por José Maria Mayrink
Atualização:

Será uma festa da Igreja na América Latina. Mais de 300 mil fiéis deverão assistir, nesta manhã, em San Salvador, à cerimônia de beatificação de d. Oscar Arnulfo Romero, assassinado em 24 de março de 1980. Seis cardeais, 100 bispos e 1.300 padres participarão da celebração, presidida pelo cardeal Angelo Amato, prefeito da Congregação para as Causas dos Santos.

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Amato foi designado pelo papa Francisco para declarar beato o arcebispo que dedicou os três últimos anos de sua vida à defesa dos direitos humanos em El Salvador, em meio a uma guerra civil que deixaria 70 mil mortos. Pelo menos 12 países do continente, entre eles o Brasil, enviaram delegações oficiais para a beatificação. Cuba escalou seu vice-presidente, que estará ao lado do cardeal Jaime Ortega, arcebispo de Havana, um dos defensores da canonização de Oscar Romero.

Feito agora beato, Oscar Romero, o Mártir da Paz, como está sendo chamado, deverá ser canonizado ou proclamado santo em breve. O fato de ter sido martirizado pela fé católica, como reconheceu o papa, dispensa a exigência de um milagre, atribuído à sua intercessão, para a canonização. Devotos de toda a América Latina, assim como do Canadá e dos Estados Unidos, já consideram Oscar Romero um santo. Na Arquidiocese de São Paulo, dezenas de comunidades se reunirão hoje em igrejas e capelas para festejar o novo beato. Esse culto vem crescendo desde maio de 2007, quando um estandarte com a imagem de Oscar Romero decorou a Tenda dos Mártires, em Aparecida, durante a 5.ª Conferência-Geral do Episcopado Latino-Americano e do Caribe.

A opção de d. Oscar Romero pelos pobres "não era ideológica, mas evangélica, pois sua caridade se estendia também aos perseguidores para os quais pregava a conversão ao bem e aos quais assegurava o perdão, apesar de tudo", observou o cardeal Amato em entrevista à Rádio Vaticano. O papa Francisco, acrescentou o cardeal, resume bem a identidade sacerdotal e pastoral de Romero, quando o chama de "bispo e mártir, pastor segundo o coração de Cristo, evangelizador e pai dos pobres, testemunha heroica do Reino de Deus, Reino de justiça, fraternidade e paz". O arcebispo de San Salvador não se engajou na Teologia da Libertação, mas é festejado com entusiasmo pelos adeptos dessa corrente, pois deu a vida pelos excluídos de seu país.

Ordenado padre em 1942 em Roma, onde estudou na Pontifícia Universidade Gregoriana, Oscar Romero era um bispo conservador, até assumir a Arquidiocese de San Salvador. O cardeal Amato lembrou na Rádio Vaticano como foi que ele mudou: "Na realidade, uma reviravolta em sua vida de pastor manso e quase tímido foi a morte, em 12 de março de 1977, de padre Rutilio Grande, sacerdote jesuíta salvadorenho que deixou o ensino universitário para ser pároco dos camponeses, oprimidos e marginalizados... Parece que a partir daquele momento a sua linguagem se tornou mais explícita na defesa do povo oprimido e dos sacerdotes perseguidos, não obstante as ameaças cotidianas que recebia".

D. Oscar Romero escreveu, ao justificar essa conversão: "Considero um dever colocar-me em defesa da minha Igreja e ao lado do meu povo tão oprimido e perseguido". Na interpretação do cardeal Amato, "suas palavras não incitavam ao ódio e à vingança, mas eram uma exortação de um pai a seus filhos divididos, que eram convidados ao amor, ao perdão e à concórdia". O arcebispo atuou como mediador entre as forças em conflito, exortando governo e grupos de esquerda a depor as armas para acabar com a violência. Uma cópia do acordo de paz, que só seria assinado em 1992 entre o governo e a Frente de Libertação Nacional Farabundo Martí (FMLN), será levada ao altar, hoje, no ofertório da missa de beatificação.

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O corpo do Beato Oscar Romero foi sepultado na Catedral de San Salvador. Em sua visita à América Central, em 1982, o papa São João Paulo II ajoelhou-se e rezou junto dele.

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