Demitida na quarta-feira do jornal venezuelano
El Universal
, a cartunista Rayma Suprani, que trabalhou 19 anos no diário, denunciou ontem que seu desligamento foi causado por uma charge que desagradou à nova direção do grupo de comunicação - que foi vendido no início de julho e tem gradualmente mudado sua linha editorial, suavizando sua crítica ao governo de Nicolás Maduro.
O último cartum de Rayma no Universal satirizava a situação dos hospitais venezuelanos, que têm sofrido com escassez de remédios e insumos médicos. Sob o título Saúde, a charge mostrava um "eletrocardiograma" normal e, logo abaixo, o comparava com a Saúde na Venezuela, em que, de uma assinatura do presidente Hugo Chávez, sai a linha reta do eletrocardiograma de um morto.
Veiculado na página de Opinião da edição impressa do Universal, o cartum também foi postado na versão online do jornal, onde permanecia no ar na tarde de ontem.
Rayma afirmou que, na quarta-feira, ao ser comunicada sobre sua demissão, escutou que sua charge tinha "desagradado muito" ao novo diretor do diário, Jesús Abreu Anselmi. "Por esse motivo, decidiu-se por minha saída do jornal", disse a cartunista.
"Essa é, obviamente, uma situação de censura", afirmou Rayma, que já havia denunciado ter sido censurada em 3 de agosto, quando não foi publicado um cartum seu que caricaturava Maduro e seu colega colombiano, Juan Manuel Santos, sob o título A Grande Comédia.
Até a noite de ontem, o Universal não tinha se pronunciado oficialmente sobre a demissão de Rayma. Porta-vozes do jornal prometiam emitir um comunicado sobre o caso, enquanto sua versão online trazia a manchete: "Maduro anunciou que apresentará provas sobre guerra psicológica no país".
"Não sabemos ainda quem comprou o diário El Universal. Não sabemos quem paga os salários. Mas agora sabemos que lhe incomoda a linha crítica - e, por isso, também podemos pensar que já não é o homem invisível que comprou o Universal, mas que há mãos governamentais (na empresa)", disse Rayma à CNN em Espanhol.
O Universal, de 105 anos, foi vendido para o grupo empresarial espanhol Epalistica que, de acordo com o próprio jornal, tem base em Madri e investe nos setores de imóveis, petróleo e mídia.
Opositores criticaram a demissão de Rayma, enquanto os chavistas consideraram seu desligamento justificável. No início de agosto, 26 articulistas do diário - em sua maioria, contrários ao chavismo e ao governo de Nicolás Maduro - deixaram o Universal denunciando censura da nova direção.
/ EFE, AP, REUTERS e AFP