Eleição de Humala lança na incerteza futuro político e econômico do Peru

Questiona-se quem será o ministro da Economia, responsável por um plano que preocupa o mercado

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Por Fernando Gabeira
Atualização:

ENVIADO ESPECIAL / LIMAApós um pedido público de Dante Caputo, chefe da missão da Organização dos Estados Americanos (OEA) que observou as eleições presidenciais no Peru, a candidata conservadora, Keiko Fujimori, reconheceu ontem a vitória de seu rival, o nacionalista Ollanta Humala, no segundo turno da votação. No momento, a apuração de 95,5% das urnas mostrava 51,5% das intenções dos peruanos a favor de Humala e Keiko aparecia com 48,5%.

 

 

"Reconheço o triunfo de Ollanta Humala, saúdo sua vitória e desejo sorte a ele", afirmou Keiko, agradecendo os votos que recebeu. "Seremos uma oposição sólida. Defenderemos nossas convicções", disse, acompanhada de seus apoiadores em seu escritório de campanha no distrito de Camacho, em Lima. No final da tarde, Keiko reuniu-se por alguns minutos com Humala para cumprimentar seu adversário.Em reação à vantagem de Humala desde o início da apuração, a Bolsa de Valores peruana registrou uma baixa de 12,51%, a maior de sua história (mais informações nesta página). "É fundamental que o país continue no rumo (do crescimento) econômico, que as regras sejam claras (...), que se crie confiança, para evitar que ocorra o que ocorreu hoje (ontem) com a Bolsa de Valores", afirmou Keiko. Incertezas. Juntamente com o susto econômico, um susto político também agitou o cenário peruano ontem, quando o vice-presidente eleito, Omar Chehade, afirmou que o ex-presidente Alberto Fujimori deve ser transferido para um presídio comum.A surpresa não se deve ao fato de que Fujimori ser um septuagenário sofrendo de câncer na língua, mas, sobretudo, pelo medo do uso da Justiça como instrumento de vingança política por parte do novo governo.Chehade, no entanto, confirmou a posição de Humala, que não descarta a possibilidade de conceder um indulto a Fujimori, caso ele não tenha condições de prosseguir na prisão militar onde se encontra atualmente.No âmbito da economia, a dúvida é sobre quem será o novo o ministro das Finanças. Já no governo, a dúvida recai sobre o próximo primeiro-ministro. As dúvidas políticas se estendem às relações com os países vizinhos, uma vez que Humala já afirmou sua intenção de abrir uma brecha entre os países conservadores da América Latina.A interrogação não para aí. O presidente venezuelano, Hugo Chávez, quer trazer o Peru para a Aliança Bolivariana para as Américas (Alba); e existe ainda a possibilidade de o país ingressar no Mercosul como membro pleno - o Peru é hoje membro-associado do bloco. O diretor da Escola de Estudos Internacionais da Universidade de Caracas, Félix Arellano, acha que a eleição de Humala fortalecerá a ideia de que o bolivarianismo é o futuro.Todos os indícios apontam para uma posição mais próxima à do governo de Luiz Inácio Lula da Silva no Brasil. Mas Humala pode ter uma grande proximidade com o governo Chávez, como teve o governo de Néstor e Cristina Kirchner, na Argentina. No entanto, as reservas internacionais do Peru são altas e todos os outros indicativos econômicos permitem uma política independente e pragmática.Missão cumprida. O escritor Mario Vargas Llosa, Nobel de Literatura e colunista do Estado, afirmou que, com a vitória de Humala, seu trabalho terminou. Para ele, os peruanos "decidiram por uma candidatura que representa a modernidade, e, de nenhuma maneira, um retrocesso para formas completamente anacrônicas, como as que encarna o senhor Hugo Chávez".OpositoraKEIKO FUJIMORICANDIDATA DERROTADA"Reconheço o triunfo de Humala, saúdo sua vitória e desejo sorte a ele. Seremos uma oposição sólida. Defenderemos nossas convicções. É fundamental que o país continue no rumo (do crescimento) econômico, as regras sejam claras (...) e se crie confiança para evitar que ocorra o que ocorreu hoje (ontem) com a Bolsa de Valores"

 

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