
27 de setembro de 2010 | 18h17
SÃO PAULO - Desde 2006, o chavismo tem perdido cada vez mais espaço nas urnas na Venezuela. Os índices de votação do presidente Hugo Chávez e de seus aliados, que passavam de 60% em sua reeleição em 2006, caíram nas regionais de 2008 e no referendo de 2009. Boletins parciais das eleições legislativas de domingo indicam que os opositores do socialismo bolivariano podem ter superado os chavistas em número de votos.
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De acordo com dados preliminares já divulgados pelo Conselho Nacional Eleitoral (CNE), a Mesa da Unidade Democrática (MUD) conseguiu 47,39% dos votos já apurados contra 48,17% do PSUV. Os dissidentes chavistas do Pátria Para Todos (PPT), que apesar da orientação esquerdista devem votar contra o chavismo, obtiveram 2,95%. Outras legendas têm 1,49%.
O secretário-geral do MUD, Ramón Guillermo Aveledo , garantiu que seu partido obteve ao menos 52% dos votos válidos totais. "O Conselho Nacional Eleitoral sabe e nós sabemos que nossos candidatos receberam 52% dos votos", disse Aveledo ao jornal El Universal.
No ano de sua reeleição, Chávez venceu o oposicionista Manuel Rosales com a preferência de 62,84% dos votos. Em 2008, nas eleições regionais, o chavismo ganhou em 18 Estados, mas foi derrotado em cinco Estados, entre eles Zulia e Miranda, mais ricos e populosos, além de perder a prefeitura de Caracas.
Após ver sua reforma constitucional derrotada em 2007, Chávez obteve o apoio de 54% dos venezuelanos para mudar a Constituição em 2009 e ganhar a possibilidade de concorrer quantas vezes quiser à presidência.
Queda na popularidade
A nova queda nos índices de votação do chavismo acontece a dois anos da eleição presidencial, quando o presidente deve se candidatar a um terceiro mandato.
A aprovação a Chávez também tem caído. Em agosto, uma pesquisa da consultoria Keller e Associados estimou a aprovação a Chávez em 37%, uma queda de 20 pontos percentuais em relação a 2009.
De acordo com o professor da Universidade Central da Venezuela, Sadio Garavini di Turno, a queda na popularidade do chavismo se deve essencialmente a três fatores: queda na receita obtida com petróleo, decorrente da crise mundial de 2009; colapso dos serviços públicos, inchados pelas estatizações; e aumento da violência urbana.
Isso fez com que o presidente perdesse o apoio de moradores das áreas pobres das grandes cidades, principalmente na capital, Caracas.
"Apesar de Chávez ter a maioria no Parlamento graças às regras eleitorais, este número de votos válidos é importante para mostrar a queda no apoio a ele", disse.
Mudança nas Regras
Em janeiro, o Conselho Nacional Eleitoral aprovou uma redistribuição de distritos eleitorais.
Para manter sua base de apoio, o chavismo manipulou o desenho dos distritos de modo que lhe favoreça - ainda que, globalmente, receba um número menor de votos. Distritos dominados pelo governo foram divididos.
Ao mesmo tempo, circunscrições onde a oposição tinha pequena vantagem foram unificadas com regiões vizinhas chavistas. A justificativa para as mudanças é aproximar o eleitor de seu domicílio eleitoral.
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