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Eleição no Reino Unido põe futuro de May e do Brexit em jogo hoje

Criticada por resposta a três atentados que mataram 34 em menos de três meses, premiê britânica tenta ampliar maioria no Parlamento

Atualização:

LONDRES - Os britânicos irão às urnas hoje para eleger seu primeiro-ministro após terem sofrido três atentados em 76 dias, com saldo de 34 mortos. A eleição, inicialmente convocada pela premiê Theresa May com foco no Brexit, começou morna, passou por temas domésticos e, com os últimos ataques em Manchester e Londres, transformou-se em um debate sobre segurança interna. 

Nos últimos dias, May radicalizou o discurso para atrair eleitores impactados pelos ataques, cuja autoria foi reivindicada pelo Estado Islâmico. Na reta final da campanha, ela chegou a prometer abrir mão de algumas leis de direitos humanos para prender e deportar suspeitos de terrorismo sem o devido processo legal. 

A primeira-ministra britânica, Theresa May, acredita que 'a luta contra o terrorismo e o extremismo islâmico deve mudar' Foto: Kevin Coombs/ Reuters

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A primeira-ministra, no entanto, também sofreu críticas pela resposta aos ataques. Foram questionados seu perfil de liderança e suas decisões à frente do Ministério do Interior, entre 2010 e 2016. 

O líder trabalhista Jeremy Corbyn, principal rival de May na votação, apostou em uma campanha com foco na melhora dos serviços públicos e contra os cortes no orçamento de serviços sociais defendido por May. Após o atentado do fim de semana, o trabalhista também criticou as decisões da premiê em relação ao combate ao terrorismo, chegando até a pedir sua renúncia. 

May antecipou as eleições com foco na negociação para retirar o Reino Unido da União Europeia. Ela queria ampliar a base do Partido Conservador no Parlamento, hoje de 17 cadeiras, para conseguir maior capital político no diálogo com Bruxelas. Ao longo da campanha, no entanto, a conservadora propôs cortes no sistema de saúde que irritaram o eleitorado mais velho, tradicionalmente fiel ao seu partido.

A sequência de fatos transformou uma eleição que, a princípio, era vista como um plebiscito sobre Corbyn e sua aptidão para enfrentar a UE em uma votação sobre a capacidade da primeira-ministra para beneficiar os mais pobres e proteger o país de atentados.

Alta. Diante do cenário, a candidatura de Corbyn começou a crescer. A vantagem inicial de May nas pesquisas, em torno de 20 pontos porcentuais, caiu para 10 na semana passada, segundo a média diária de levantamentos publicada pelo jornal Guardian. Após o atentado, ela oscilou para nove pontos - um resultado que daria a May uma maioria confortável, mas menor que a atual no Parlamento. 

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No último dia de campanha, a primeira-ministra tentou desviar o debate da luta contra o terrorismo para retomar o foco no Brexit, sua pauta inicial. “Sobre a eleição de amanhã, as questões que as pessoas têm de responder são as mesmas do início da campanha”, disse May. “Quem vocês acreditam que terão uma liderança forte e estável para conseguir o melhor acordo para o Reino Unido?”

Corbyn, um veterano da ala mais à esquerda do Partido Trabalhista, que já respaldou os governos de Fidel Castro e Hugo Chávez, foi eleito líder da legenda no ano passado, após o referendo que determinou o Brexit. “A escolha é simples. Mais cinco anos de um governo conservador, mais cinco anos de cortes e austeridade, ou algo diferente”, disse ele.

Apesar do crescimento nas pesquisas, dificilmente os trabalhistas devem tirar a vitória dos conservadores em razão da votação do Partido Nacionalista Escocês. “Os nacionalistas na Escócia devem tirar muitos votos de Corbyn e os trabalhistas eram fortes lá”, disse ao Estado Matthew Cole, da Universidade de Birmingham. “Para compensar essa perda, os eleitores mais jovens e urbanos, tradicionalmente alinhados à esquerda teriam de comparecer em número inesperado na eleição.” / LUIZ RAATZ, COM AFP e REUTERS