Eleição parlamentar argentina define força de Macri e Cristina para 2019

Além de renovar metade da Câmara e um terço do Senado, votação de hoje é um termômetro de popularidade para os dois maiores rivais políticos da Argentina; se a ex-presidente for eleita para o Senado, passará a contar com prerrogativa de foro

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Foto do author Luciana Dyniewicz
Por Luciana Dyniewicz e Buenos Aires
Atualização:

O professor Demian German Urdin, de 27 anos, votará hoje na ex-presidente argentina Cristina Kirchner para o cargo de senadora. Urdin, porém, não está confiante: admite que não será fácil para Cristina vencer e vê, na disputa pelo Senado na Província de Buenos Aires, uma eleição que terá consequências nacionais. “Uma vitória do PRO (partido do presidente Mauricio Macri) significa um avanço do partido como força dominante no país”, diz.

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Apesar de o presidente não disputar nenhum cargo, as eleições legislativas – que renovarão um terço do Senado e metade da Câmara dos Deputados – são consideradas um termômetro de popularidade para Cristina e Macri. Com base no resultado das primárias, realizadas em agosto, já se sabe que é bastante improvável que o partido de Macri consiga a maioria absoluta do Congresso e, portanto, o presidente deverá continuar dependendo de negociações com parlamentares para ter seus projetos aprovados. “Na melhor das hipóteses, sua coligação, a Cambiemos, conseguirá mais 11 cadeiras no Senado (hoje são 15) e 18 na Câmara (já tem 86)”, diz o analista Rosendo Fraga.

O atual presidente argentino, Mauricio Macri, e a ex-presidente Cristina Kirchner em campanha em Buenos Aires Foto: AFP PHOTO / Juan MABROMATA AND Eitan ABRAMOVICH

Assim, o que está em jogo é começar a corrida presidencial de 2019 um passo a frente do rival. “Desde 1983, quando voltamos à democracia, das sete eleições (legislativas) que tivemos, seis anteciparam o resultado da eleição presidencial seguinte. Se (o partido de) Macri vence agora, passam a vê-lo (o presidente) como alguém com força para ser reeleito”, afirma Fraga.

Por outro lado, se Cristina conseguir com folga sua cadeira no Senado pela Província de Buenos Aires, a mais populosa do país, com quase 40% do eleitorado, ganha impulso para voltar à Casa Rosada. Além disso, passa a ter prerrogativa de foro. Isso dificultaria uma prisão em caso de avanço das investigações contra ela na Justiça – Cristina é alvo de denúncias de corrupção.

É justamente a Província de Buenos Aires que deverá ter a disputa mais acirrada hoje. Em agosto, nas primárias, Cristina ganhou do candidato de Macri, Esteban Bullrich, por 0,21 ponto porcentual. Agora, pesquisas apontam uma diferença de pouco mais de três pontos porcentuais em favor de Bullrich.

Ex-ministro da Educação, Bullrich não é um nome muito popular entre as massas e quem fez sua campanha foi o próprio presidente e a governadora da província, María Eugenia Vidal, política com o maior índice de popularidade no país. Nas últimas semanas, Macri caminhou pelos bairros, comeu churrasco com operários e voltou a andar de ônibus – no ano passado, ao fazer isso, havia sido acusado de ter entrado em um ônibus estacionado em um campo apenas para fazer fotos.

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Às vésperas da eleição, porém, não foi marcada pelo discurso dos políticos, mas pelo caso do ativista Santiago Maldonado. O corpo do jovem de 28 anos foi identificado na noite de sexta-feira, três dias após ter sido encontrado em um rio na Patagônia. Santiago desaparecera em agosto durante um ato organizado por índios mapuches por direito a terras no sul do país. Os índios dizem que ele foi espancado e detido pela Gendarmería (polícia militar responsável pelas fronteiras ligada ao Ministério de Segurança), o que prejudicou a imagem do governo.

Para o professor Urdin, o caso Maldonado é um assunto político e o governo é responsável pela morte do ativista. “Um desaparecido em uma democracia, por questões de perseguição política por parte das forças de segurança do Estado, é uma questão política.”

O analista Sergio Berenztein acredita que o caso pode pesar na escolha de candidato dos que estavam indecisos, que são cerca de 8% dos eleitores. O restante, diz o analista, decidiu seu voto com base na ideologia. Do lado de Cristina, estão os movimentos sociais. Macri e Bullrich têm o apoio de setores econômicos importantes, como o financeiro, o da construção e o do agronegócios, que se beneficiaram com as políticas implementadas pelo presidente, mais favoráveis ao mercado. 

Relembre: Macri supera teste das primárias legislativas

“Estamos convencidos de que o governo vai na direção correta. A sensação é que o país cresce com uma base mais sólida”, diz o empresário Juan Chediack, que tem uma construtora na Província de Buenos Aires. O setor da construção foi o que mais cresceu na Argentina no primeiro semestre deste ano, quase 12%. 

O governo de Macri projeta que o PIB avance 3% em 2017 e, para Sergio Berensztein, esse resultado beneficiará o presidente. “O governo conta com uma vantagem em razão da retomada da economia.”

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