Eleições de 2012 estão na origem do impasse

Analistas veem o conflito no Congresso em torno da aprovação do teto da dívida americana como um 'teatro político'

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Por Denise Chrispim Marin
Atualização:

A eleição presidencial de 2012, nos Estados Unidos, está na base de um impasse entre os Partidos Republicano e Democrata capaz de levar o país à sua maior crise econômica. No dia 2 de agosto, se não houver um acordo aceito pelos líderes das duas legendas e pela Casa Branca, os Estados Unidos vão declarar a suspensão de pagamentos pela primeira vez na sua história. Mesmo com um acordo sancionado, ainda estarão arriscados a perder a mais elevada avaliação de risco que um país pode ter de sua dívida.Analistas veem o conflito no Congresso como um verdadeiro "teatro político". Do lado republicano, tornou-se explícita a intenção de criar o pior ambiente possível em 2012 para a candidatura do presidente americano, Barack Obama, à reeleição. Ainda sem candidato definido, em uma lista de cerca de dez pretendentes, o partido parece apostar no pior cenário para a economia como a melhor oportunidade para o concorrente republicano de Obama. A proposta do republicano John Boehner, presidente da Câmara dos Representantes, de aumentar em apenas US$ 900 bilhões o teto da dívida, refletiu essa ambição. Acabou abortada em votação no Senado na noite de sexta-feira. Se tivesse sido aprovada, teria forçado o governo Obama a uma nova negociação com o Congresso em dezembro e ressuscitado o risco de suspensão dos pagamentos federais e de redução da nota da dívida. Claro, num cenário em que a proposta também passasse pelo Senado de maioria democrata e pela sanção de Obama, o que não tinha pouca ou nenhuma chance de acontecer.A proposta do senador Harry Reid, líder da maioria democrata, aumenta o limite de endividamento em US$ 2,4 trilhões e daria uma passagem tranquila a Obama em 2012. Impacto. Embora as duas propostas mencionassem valores similares de ajuste fiscal nos próximos anos, entre US$ 2,2 trilhões e US$ 2,5 trilhões, a do republicano Boehner exigiria cortes de gastos mais profundos no ano que vem. O impacto na economia real seria maior no período eleitoral e tenderia a prejudicar Obama e os candidatos democratas ao Congresso. Thomas Mann, sócio sênior do Brookings Institution, ponderou ao Estado ser a crise em torno do limite da dívida federal americana também resultado da maior presença no Congresso do Tea Party, a ala radical de direita dos republicanos, cujos princípios e exigências não são negociáveis. Mas acrescentou que o país está em permanente campanha e, nesse ambiente, "qualquer peça de legislação tende a virtualmente se ser vista pelas lentes eleitorais". "Os republicanos querem vencer a Casa Branca e tomar o controle das duas Casas do Congresso", afirmou Mann, para lembrar em seguida a prioridade declarada por Mitch McConnell, líder da minoria republicana no Senado, de tornar Obama presidente de um só mandato.Ambição eleitoral. Segundo Richard Wolff, professor de Economia da Universidade de Massachusetts, o "teatro político" torna-se mais claro quando se avalia o número de vezes em que o teto da dívida foi aumentado automaticamente pelo Congresso, sem barganhas nem impasses. Desde 1940, foram 90 vezes. A rigor, o aumento da dívida federal além do limite fixado se daria por causa de gastos autorizados pelo próprio Congresso, ao aprovar o orçamento do ano fiscal de 2011. Ambos os partidos, em sua opinião, usaram essa ocasião conforme suas ambições eleitorais. "Os republicanos decidiram começar a sua campanha bem cedo desta vez", afirmou. "Os democratas venderam cortes de gastos públicos que não poderão executar."

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