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Eleições em Israel e o futuro do Oriente Médio

Por GILLES LAPOUGE
Atualização:

Eleições em Israel são sempre um fato marcante. Este ano, ela nos dirá se a era Binyamin Netanyahu terminou, depois de nove anos agitados e um novo período terá início com o crescimento da esquerda. Das urnas dependerá não só o destino de Israel, mas de toda a região, e dirá qual o caminho a ser seguido pelo Ocidente, sobretudo as vias que Barack Obama poderá seguir. Sabemos que Obama tenta concluir as negociações nucleares com o Irã, mas enfrenta a oposição dos republicanos, que dividam do plano e da confiança que o presidente tem nos iranianos. Netanyahu grita por seu lado e desafia Obama, que ainda é, contudo, o maior apoio de Israel. Contra Netanyahu, uma esquerda ausente nos últimos 20 anos e composta, principalmente, pelos trabalhistas, cujo chefe é Isaac Herzog, aos quais se junta a pequena formação de Tzipi Livni, que em dezembro ainda era a ministra de Netanyahu. Herzog e Livni elaboraram uma lista comum. Não quiseram entrar na disputar sob a sigla "trabalhista", desvalorizada porque é suspeita de "pacifismo", um pecado capital. Herzog e Livni adotaram um outro rótulo: "União Sionista". Um nome escolhido não ao acaso. Em Israel, o termo "sionista" está envolto numa auréola sagrada. Antissionista é o mais violento insulto que pode ser dirigido contra um inimigo político. E a direita conseguiu a proeza de se tornar a verdadeira e única formação sionista, com todos os outros grupos acusados de emanar um forte odor antissionista, particularmente os trabalhistas. Apoderando-se do termo, Herzog e Livni esperam conjurar o pecado original que seus inimigos lhes imputam e deixar claro que são ainda mais sionistas do que os próprios sionistas do Likud. A dificuldade é que desde o século 19 o termo viajou muito. Ao longo da sua peregrinação, assumiu conotações variadas, a ponto de hoje não sabermos mais ao certo o que ele significa. A glória da palavra "sionismo" foi sua infelicidade. Querendo dizer tudo, acabou por dizer nada. Assim, não espanta que a campanha eleitoral tenha sido dominada por análises semânticas de uma extrema sutileza em torno do conceito. Herzog explicou seu sionismo e demonstrou que o sionismo do seu adversário é uma adulteração. Herzog tem estatura? É um homem sem talento e sem graça. Sua voz débil, nasal e escorregadia não tem nenhum peso diante da bela voz de baixo de Netanyahu, capaz de carícias e de ímpetos de cólera. Na falta de carisma e sem eloquência, Herzog só pode afirmar sua boa vontade e honestidade. Sem dúvida, ele foi ajudado por uma genealogia dourada. Seu pai, Chaim Herzog, foi presidente de Israel de 1983 a 1993. Sua mãe combateu no Exército clandestino judeu e seu tio, Abba Eban, foi chanceler e grande orador. Seu avô, Isaac Halevi Herzog, foi o primeiro rabino-chefe ashkenazi após a criação do Estado de Israel. Esta bela árvore genealógica convencerá os eleitores de que a União Sionista é sionista? Pelo menos uma coisa já é certa: a aliança, nas pesquisas, venceria o Likud. Mas o partido de extrema direita Casa Judaica, de Naftali Bennett, obteria cerca de 15% dos votos e complicaria o cenário. / TRADUÇÃO DE TEREZINHA MARTINO *É CORRESPONDENTE EM PARIS

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