Eleições na Espanha: Guia para entender a votação

Espanhóis vão às urnas neste domingo pela quarta vez em quatro anos

PUBLICIDADE

Foto do author Redação
Por Redação
Atualização:

MADRI - Manifestações violentas na Catalunha, exumação dos restos mortais do ditador Francisco Franco, força da extrema direita, fragmentação e instabilidade política. Estes são as questões-chave para as eleições legislativas deste domingo na Espanha, as quartas realizadas em quatro anos. Entenda cada um desses pontos abaixo.

Pedro Sánchez discursa durante comício emTorremolinos Foto: Jorge Guerrero / AFP

PUBLICIDADE

Protestos na Catalunha

Após anos acreditando em seu caráter pacífico, o separatismo catalão experimentou uma mudança no clima com os protestos em Barcelona e em outras cidades da região, depois que o Tribunal Supremo da Espanha condenou nove líderes independentistas a longos anos de prisão pela tentativa de separação de 2017.

Elisenda Paluzie, líder da associação separatista ANC, avalia que as imagens de barricadas em chamas e das ações dos policiais contra os manifestantes “tornam o conflito visível” aos olhos do mundo.

Em nome da “temperança”, o primeiro-ministro socialista Pedro Sánchez se negou a tomar medidas extremas, como exigia a direita opositora - o Partido Popular (PP) e o Ciudadanos -, ainda que tenha endurecido seu discurso em direção ao separatismo, o que o levou a ser qualificado como “reacionário”.

O fator Vox

A instabilidade na Catalunha tem, segundo as pesquisas, um beneficiário: o partido de extrema direita Vox, que nas legislativas de abril entrou na Câmara baixa do Parlamento com 24 deputados, de um total de 350.

Publicidade

De acordo com várias sondagens, esta formação - que se propunha a suspender a autonomia catalã e tornar ilegais os partidos e associações separatistas - poderia passar de quinta para terceira maior força política do país.

O surgimento repentino do Vox é uma das grandes novidades na Espanha, que até agora não contava com nenhum partido significativo de extrema direita, e reconfigurou o mapa do conservadorismo espanhol.

Graças ao apoio parlamentar do Vox, PP e Ciudadanos governam em coalizão as regiões de Andaluzia, Madri e Múrcia, e controlam também a prefeitura da capital.

Candidatos à liderança do governo espanhol participam de debate dias antes daeleição Foto: Juan Carlos Hidalgo / EFE

Pablo Fernández Vázquez, professor de ciências políticas na Universidade de Pittsburgh, avalia que “o bloco da direita tem muita dificuldade para entrar em acordo” com quem está do lado de fora. Assim, só conseguiria governar a Espanha no caso improvável de obter maioria absoluta.

Francisco Franco

Sánchez acabou se envolvendo em uma polêmica ao exumar os restos mortais do ditador Francisco Franco do Vale dos Caídos, o mausoléu onde estava desde que morreu, em 1975, para enterrá-los novamente em um terreno da família.

Os socialistas destacaram como um feito histórico a exumação, obtida após uma grande batalha judicial com os netos do ditador.

Publicidade

Contudo, Fernando Vallespín, cientista político e ex-presidente do Centro de Investigações Sociológicas (CIS), acredita que isso não terá consequências apenas nas eleições, e “não terá o efeito que o governo, de forma otimista, pensava que iria ter”.

Fragmentação crescente

O tradicional bipartidarismo PP-PSOE acabou em 2015 e, desde então, a fragmentação aumentou cada vez mais.

No lado conservador concorrem três partidos: Ciudadanos, Vox e PP - este em ascensão e que, segundo Vallespín, tem a “possibilidade de contar com o voto útil da direita”, fortalecida pela crise na Catalunha.

Na esquerda, há outros três: PSOE, Podemos e Más País, uma divisão do partido de Pablo Iglesias liderada por seu ex-número 2 Íñigo Errejón.

No setor do independentismo catalão a formação Juntos pela Catalunha, promovida pelo ex-líder regional Carles Puigdemont, e a Esquerda Republicana da Catalunha (ERC) se uniram ao CUP, da extrema direita.

Instabilidade

Publicidade

Com a política espanhola mergulhada em uma lógica de blocos, as pesquisas preveem o risco de uma nova situação de paralisia, da qual não fariam parte PSOE, Podemos e Más País, de um lado, nem PP, Ciudadanos e Vox, de outro.

Os nacionalistas catalães seriam os que poderiam conseguir mais de 20 deputados, ainda que os socialistas não estejam buscando apoio.

O remédio extremo poderia vir de uma abstenção do PP, para permitir que Sánchez iniciasse a legislatura, ainda que os “populares” não queiram falar dele em público. / AFP

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.