Eleições não animam alemães

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Por Agencia Estado
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Dirk Sheibert, de 35 anos, artista de rua que batalha alguns trocados desenhando retratos a lápis na Praça da Prefeitura, no centro de Bonn, não vai votar nas eleições parlamentares alemãs do dia 22. "Sou um anarquista e nunca tinha votado até as eleições de 1998, quando resolvi votar nos verdes porque eles apresentaram propostas que pareciam boas. Mas eles também me decepcionaram. Este ano, vou agir de acordo com minhas convicções: não voto", disse Sheibert. Ele ganha a vida percorrendo os bares da cidade, nos quais tenta convencer turistas a comprar os retratos que desenha na hora, por 10 euros (pouco mais de R$ 30,00). Nas melhores noites, normalmente às sextas-feiras e sábados, fatura até 50 euros. Pouco para um país onde uma lata de refrigerante custa 2 euros. Como bom anarquista, o retratista ambulante não paga impostos sobre seus pequenos ganhos. "Gerhard Schroeder (o chefe do governo alemão, formado pela coalizão entre os social-democratas do SDP e o Partido Verde) prometeu muito, não cumpriu nada e agora volta a pedir votos; Edmund Stoiber (governador da Baviera e candidato à chefia do governo pela coligação democrata-cristã CDU/CSU) é um direitista de tendência xenófoba louco por mais poder", analisa Sheibert. O caso do artista de rua não é a única demonstração de má-vontade dos alemães às vésperas da eleição para o Parlamento, ou Bundestag. Uma pesquisa divulgada na semana passada revela que 50% dos eleitores estão dando de ombros para a votação do dia 22. "Isso não significa que essas pessoas não votarão, mas essa indiferença é um dado preocupante, pois demonstra que metade da população do país está alheia ao debate político que precede uma eleição parlamentar", afirmou o especialista em estatística do Departamento de Imprensa e Informação do Governo Federal, Richard Koch. Tanta descrença em relação à política e aos políticos pode ser creditada ao fracasso do atual governo de Schroeder em seu esforço para conter os índices de desemprego e um déficit fiscal que ameaça a estabilidade da economia do país, que tem um PIB de mais de US$ 2 trilhões - quase quatro vezes maior que o do Brasil. O governo vermelho e verde, como é conhecida a coalizão, chegou ao poder prometendo reduzir a cifra de 5 milhões de desempregados da Alemanha. Quatro anos depois, essa cifra aumentou. O peso dos bilhões de dólares investidos em infra-estrutura na ex-Alemanha Oriental começa agora a sobrecarregar a economia e alimenta o déficit fiscal crescente. Schroeder, a quem a fatura dos custos da reunificação foi apresentada, arca também com o ônus político da má situação financeira - nada desesperadora, mas preocupante. Há um mês, o atual chanceler era carta fora do baralho e a eleição do CSU/CDU de Stoiber era considerada uma barbada. Mas dois eventos ocorridos durante a campanha puseram de novo o SPD e os verdes no páreo: as chuvas que causaram inundações em várias cidades alemãs em agosto e a escalada da retórica de guerra dos Estados Unidos contra o Iraque. Em quatro semanas os social-democratas avançaram sete pontos porcentuais nas pesquisas de intenção de voto e pulverizaram a diferença que tinham em relação aos democrata-cristãos. Esta semana, segundo várias pesquisas, os dois maiores partidos estavam empatados na faixa dos 38%. Os liberais, da FDP, têm 8 5% e os verdes, aliados do governo, 7,5%. Para ser eleito, o próximo chefe do governo deverá obter o apoio de mais de 50% dos parlamentares. Schroeder suspendeu a campanha para assumir pessoalmente a gestão da crise causada pelas inundações - uma medida aprovada pela maioria da população. No caso da iminência de uma guerra para a qual Washington busca obter o apoio da maior parte de seus aliados europeus, Schroeder assumiu a liderança da oposição do Ocidente a uma intervenção militar. Para isso, rompeu até mesmo o compromisso de "solidariedade incondicional" feito ao presidente George W. Bush, após os ataques de 11 de setembro. Mas ganhou uma importante parcela de eleitores alemães traumatizados com qualquer perspectiva de guerra.

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