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Eleições presidenciais

Hoje, há eleições presidenciais no Irã. Desde a criação da república islâmica pelo aiatolá Khomeini, em 1979, essa é a 11.ª eleição presidencial no país. A anterior, em 2009, em que Mahmoud Ahmadinejad conseguiu seu segundo mandato, foi marcada por fraudes maciças. O líder supremo, o aiatolá Ali Khamenei, socorreu o duvidoso vencedor, mesmo necessitando recorrer a meios violentos. Khamenei tornou-se inimigo do seu antigo protegido, mas, de qualquer maneira, Ahmadinejad não teria direito de se candidatar a um terceiro mandato. Seria de supor que essas eleições serão mais leais e menos perversas do que a anterior. Um erro. O aiatolá isolou o escrutínio. Realizou uma triagem entre os candidatos. Embora não pudesse mais se candidatar, Ahmadinejad tinha discípulos candidatos a sua sucessão. Todos foram interditados pelo líder supremo. Restaram, então, alguns reformadores, como o ex-presidente Hashemi Rafsanjani, já idoso, com 79 anos, mas muito popular. O aiatolá Khamenei o arrancou da lista de candidatos. Outros também foram excluídos, salvo um, Hassan Rohani, cujo índice de intenção de votos subiu nos últimos dias. Portanto, na disputa, temos um único candidato reformador, Hassan Rohani, e três conservadores, próximos de Khamenei: Ali Akbar Velayati, ex-chanceler do Irã. Mohamed Baqer Qalibaf, prefeito de Teerã, e Saeed Jalili, negociador nuclear. Salvo alguma surpresa, um desses três se tornará presidente da república islâmica. O líder supremo continuará a ser o verdadeiro chefe do Irã. "Os presidentes passam, o líder supremo fica". Ora, Ali Khamenei, conhecido por seus gostos simples, sua piedade e discrição, não é um homem brando. Claro, ele não tem salário, mas controla as fundações religiosas que administram bilhões dólares. O aiatolá é um teocrata ditatorial puro. Teve um papel crucial na ação em que foram feitos reféns na Embaixada dos Estados Unidos em Teerã, em 1979, e também no alistamento de crianças para lutarem na Guerra Irã-Iraque, nos anos 80, e na fatwa que condenou à morte o escritor Salman Rushdie. Estes são alguns dos grandes feitos do santo homem, que tem seis filhos e afirma descender do profeta Maomé - embora sejam raros os chefes prestigiados do Oriente Médio que não descendam de Maomé. O grande derrotado desta eleição é Hashemi Rafsanjani, o ex-presidente, que nem mesmo teve permissão para se candidatar. Aos 79 anos, poderíamos dizer que sua carreira está terminada. No entanto, ele encarna uma esperança. Apesar de um passado brutal, no decorrer dos anos, Rafsanjani tornou-se símbolo de um Irã que daria, enfim, as costas a sua histeria, suas tormentas e suas paixões. Ahmadinejad. O Washington Institute acredita até que ele tenha chances de retornar no futuro, apesar da idade. Rafsanjani se apresenta como um líder que está disposto a carregar um pesado fardo para salvar o sistema. Além disso, ele deixou claro que o líder supremo, Ali Khamenei, é um homem mesquinho e ditatorial. E, de fato, desqualificar Rafsanjani, sem dúvida, custará muito caro para Khamenei e seu regime. Enfim, a eleição marcará o desaparecimento do atual presidente da república, Mahmoud Ahmadinejad. O mundo inteiro familiarizou-se com esse homem de estatura baixa, aspecto de camponês rústico, terrível orador, discursos imbuídos de fanatismo, sua diatribes contra o Ocidente, sua obstinação em construir uma bomba atômica. Ninguém esquecerá esse "Savonarola" e seu olhar estranho, sua figura de asceta e sua promessa preferida nas Nações Unidas, de "apagar Israel do mapa". O balanço dos seus dois mandatos, sobretudo o segundo, é uma enorme calamidade. Ele foi eleito em 2005 com a promessa de colocar o dinheiro do petróleo na mesa dos iranianos. Oito anos depois, a mesa dos iranianos está cada vez mais vazias e não há petróleo. Um sinal do seu fracasso foi ter conseguido se desentender com Ali Khamenei, que o eliminou da lista de oradores quando foram realizadas homenagens pela morte do aiatolá Khomeini, criador da república islâmica, na semana passada. Assim, descem as cortinas sobre esse bufão exaltado e místico. Não o veremos mais expelindo seu ódio e sua esperança, mas seus sonhos continuarão a atormentá-lo. O maior deles é a certeza de que ele terá um encontro direto com o 12.º segundo imã xiita, Mohamed al-Mahdi, oculto desde o ano 874 e cujo retorno à terra, segundo creem os xiitas, trará uma era de paz e justiça.   TRADUÇÃO DE TEREZINHA MARTINO.

Por GILLES LAPOUGE
Atualização:

* GILLES LAPOUGE É CORRESPONDENTE EM PARIS.

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