Uma semana depois de ser anunciada a adesão do Exército de Libertação Nacional (ELN) ao processo de paz na Colômbia, a guerrilha demonstrou ontem sua desconfiança no governo do presidente Juan Manuel Santos, reeleito no domingo, e indicou sua intenção de não se sentar à mesa de negociação.
No comunicado "Os Acordos e Desacordos com Santos", a guerrilha reclamou de uma mudança no texto do tópico 6 da declaração conjunta emitida ao final da fase exploratória.
"Se o governo muda unilateralmente um acordo simples, que está por escrito, e se o faz na presença de testemunhas internacionais, garantidores e acompanhantes, o que podemos esperar do que falta desse processo de diálogo e negociação? Deste modo, não se constrói confiança", declarou o grupo guerrilheiro.
A declaração conjunta sobre a adesão do ELN ao processo de paz tornou-se público no dia 10, quando foi lida para a imprensa no escritório do comissário para a paz.
O texto combinado deveria dizer que "delegações fazem um chamado ao povo colombiano para que se una ao propósito comum de construir um país em paz e em igualdade". Mas incluiu outro objetivo não acertado, segundo o ELN: "alcançar o fim do conflito".
O governo e o ELN estavam negociando desde o final do ano passado, enquanto já corriam em Havana as conversações com as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc). Houve uma rodada no Equador, de 21 dias, e outra no Brasil, de 20 dias, conforme publicou o jornal El Tiempo. Dessa etapa inicial saiu o compromisso de começar a negociação efetiva sobre a pacificação que Santos afirmou esperar para os "próximos dias".
O principal negociador do ELN é Antonio García, seu comandante militar. Ele é acompanhado por outros cinco representantes do diretório nacional da guerrilha nas conversas com o governo Santos. O líder máximo da organização, Gabino, nome de guerra de Nicolás Rodríguez Bautista, não esteve presente nas conversações.
Brasil, Noruega e Equador teriam garantido um ambiente seguro para as negociações. Outros três países - Venezuela, Chile e Cuba - acompanharam as conversas.
Fernando Cepeda, ex-ministro de Governo e de Comunicações da Colômbia, lembra já ter havido três acordos de paz assinados com o ELN. Um deles, no final do mandato do presidente Ernesto Samper (1994-1998), foi firmado na Alemanha.
O ex-presidente Álvaro Uribe, considerado avesso às negociações de paz, dialogou por quatro anos com esse grupo guerrilheiro e Havana. Mas não chegou ao cessar fogo.
"Essas guerrilhas têm uma característica que as encantam, a de negociar e, simultaneamente, continuar com suas atividades militares", afirmou Cepeda.
O ELN foi criado em 1965, sob a inspiração da Revolução Cubana. Mas desde sua origem, negou o marxismo - ao contrário das Farc - pelo fato de ter sido comandada por anos por padres católicos adeptos da Teologia da Libertação. No ano seguinte à sua criação, o padre e guerrilheiro CamiloTorres foi morto em combate. Seu líder até 1998 foi o padre Manuel Pérez, que se opunha ao financiamento do ELN por meio do narcotráfico, como já faziam as Farc.
Essa via foi mais tarde incorporada aos meios de financiamento - os sequestros e o "imposto de guerra" cobrado das grandes empresas petroleiras e de mineração do país. Segundo Cepeda, o ELN tornou-se "viciado" em gasodutos. Uma de suas principais táticas de coerção às petroleiras é romper os dutos nos territórios que domina e, após o pagamento, os recuperam. "Eles são especialistas nisso", afirmou. "As companhias já aprenderam a conviver com eles", completou.