'Em 3 ou 4 anos, Reino Unido voltará ao que era antes da UE', diz economista

Para Otto Nogami, país tem condições de sobrevivência e deve ter comércio internacional fortalecido

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Por Thaís Ferraz
Atualização:

Com o fim do período de transição do Brexit, em 31 de dezembro, o Reino Unido inicia oficialmente uma nova era em termos de comércio internacional. Para o economista e professor do Insper Otto Nogami, o cenário não é negativo para o país. "Estruturalmente falando, a Grã-Bretanha tem condições de sobreviver sem depender dessas outras economias", explica. 

Leia a entrevista completa:

O economista e professor do Insper Otto Nogami Foto: Daniel Teixeira/Estadão

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Qual será o impacto econômico interno do Brexit?

Domesticamente, esse desligamento pode gerar algum tipo de desequilíbrio. Pela própria característica da UE, há uma interdependência muito grande (entre Reino Unido e o bloco), em função de uma série de restrições. Então a curto prazo, isso terá algum impacto, sem dúvida alguma. Mas a longo prazo, pela própria característica da Grã-Bretanha, ela tende a assumir uma posição distinta nesse contexto, como faz hoje a Suíça. Estruturalmente falando, a Grã-Bretanha tem condições de sobreviver sem depender dessas outras economias.

E externamente?

A Grã-Bretanha é um país caracteristicamente industrial. Consequentemente, em função da livre circulação de bens dentro da UE, e o conceito do mercado comum, ela tinha uma força muito grande em termos de abastecer o continente. Esse rompimento eventualmente poderia cessar a relação comercial, o que eu acho difícil, porque temos que admitir que há uma dependência da UE em relação à Grã-Bretanha. Acredito que acordos bilaterais serão realizados no sentido de manter esse fluxo de comércio.

Acredito inclusive que a dependência comercial vem muito mais da UE do que da Grã-Bretanha. Porque desde o começo, está muito claro que de alguma maneira a Grã-Bretanha se prejudicou quando entrou na UE, ao menos em termos comerciais. O grande problema, por exemplo, foi a proteína animal, porque a Grã-Bretanha importava da Austrália e passou a ter um fornecimento diferente, a custo elevado. O mesmo acontecia com grãos, que antigamente eram importados do Canadá. 

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O que o Brexit significa para o Brasil e para a América Latina?

Um avanço significativo, principalmente no que diz respeito aos produtos agrícolas. No contexto da UE, a França interpunha uma série de restrições para o comércio do Mercosul. Essa parceria vinha sendo costurada há décadas, mas até hoje não surtiu efeito por causa das restrições. O comércio bilateral da Grã-Bretanha acabava cerceado. À medida que ela sai da UE, passamos a ter uma condição de negociação totalmente livre, e isso pode ajudar nossa exportação de produtos básicos. 

Brexit pode ser um ponto de retomada de parcerias econômicas anteriores? E em relação a novos parceiros?

Sem dúvidas. A partir do momento que cessa o livre abastecimento por parte da UE, o bloco vai procurar novos parceiros que apresentem preços mais competitivos. A Grã-Bretanha também deve procurar novos parceiros, principalmente entre aqueles que fazem parte da Commonwealth. Isso abre um leque muito maior para a Grã-Bretanha, e eu não deixaria de apostar na idealização de um novo bloco econômico a longo prazo. 

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Qual será o setor mais impactado, dentro e fora do Reino Unido?

A liberalização do comércio, principalmente no que diz respeito à exportação e importação. Isso vai fazer da Grã-Bretanha um país mais forte em termos de comércio internacional e provavelmente em 3, 4 anos, ela voltará a assumir seu papel antes da entrada da UE.

No conjunto, acredito que o Brexit vá afetar mais a Alemanha do que qualquer outro país. São as duas economias mais desenvolvidas do bloco. Com a saída da Grã-Bretanha, a Alemanha fica sozinha. Quem poderia substituir o Reino Unido? A Holanda, que tem característica semelhante: base industrial e base financeira forte. Mas é uma economia pequena. Não me causaria estranheza se a própria Alemanha decidisse sair (da UE) também.

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