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Em adeus final, África do Sul enterra Mandela

Líder negro que derrotou regime do apartheid é sepultado em cerimônia reservada, com 5 mil convidados, na vila de seus ancestrais tribais, Qunu

Por ANDREI NETTO , QUNU e ÁFRICA DO SUL
Atualização:

A longa caminhada de Nelson Rolihlahla Mandela - o líder negro que derrubou o apartheid, evitou uma guerra civil, conquistou o Nobel da Paz e comandou a África do Sul - chegou ontem ao fim no vilarejo de seus ancestrais tribais nobres, Qunu. Madiba, como era chamado carinhosamente, foi sepultado em uma cerimônia religiosa sóbria para 5 mil convidados.

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Desde o anúncio da morte do maior líder sul-africano, no dia 5, as homenagens se sucederam: a primeira no estádio de Soccer City, em Johannesburgo, com a presença de mais de 90 chefes de Estado e de governo do mundo inteiro; depois, nos três dias de velório em Pretória, quando mais de 100 mil compareceram para celebrar a vida de Mandela.

Depois de um último velório restrito à família, em sua residência, em Qunu, o cortejo fúnebre com o corpo do líder, coberto pela bandeira multicolorida da África do Sul, chegou ao local do sepultamento pouco antes das 8 horas, sob salva de tiros de canhão e escoltado pelas Forças Armadas. Na capela improvisada, militantes do Congresso Nacional Africano (CNA), partido do ex-presidente, que pouco antes cantavam e dançavam, silenciaram.

Com os quase 5 mil convidados - havia lugares vazios -, estavam líderes como o príncipe britânico Charles e o monegasco, Albert II, e o arcebispo sul-africano Desmond Tutu, que acabou convidado de última hora, no sábado. Também compareceram personalidades negras como o pastor e líder negro americano Jesse Jackson a apresentadora Oprah Winfrey.

Acompanhando o caixão, chegaram abraçadas e vestidas de negro Winnie Madikizela-Mandela e Graça Machel, duas das três mulheres de sua vida.

No ingresso na capela, um coral entoava o hino sul-africano - que inclui trechos do Nkosi Sikelel' iAfrika, ou "Deus Salve a África", o canto informal da luta contra o apartheid. A cerimônia continuou com tons locais, como quando o chefe tribal Ngangomhlaba Matanzima entrou coberto de pele de leopardo e discursou em xhosa, a língua falada pelo clã Madiba.

Ahmed Kathrada, parlamentar e amigo de Mandela, lembrou as razões pelas quais o mundo louva a memória do líder: a reconciliação e a conquista da união e da paz na África do Sul. "Estamos profundamente orgulhosos por viver em uma democracia constitucional."

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Nandi Mandela, neta do líder, destacou sua chegada ao poder. "Em 1993, quando poderíamos ter deslizado para a guerra civil, ele conclamou o país, brancos e negros, a permanecerem calmos, e o povo o ouviu, porque o respeitava", lembrou.

Quando Zuma deveria prestar sua homenagem, um homem não identificado subiu no púlpito e discursou aos gritos, tomando a frente do presidente. O imprevisto foi o momento constrangedor do evento. A seguir o chefe de Estado puxou um coro, seguido pela plateia, com uma canção da época do apartheid, Tina Sizwe (A Nação Marrom), cuja letra lamenta mais uma vítima na luta pela liberdade na África do Sul.

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