Em aparente represália, China proíbe transmissão da BBC no país

Proibição seria uma resposta à revogação da licença britânica de transmissão para a estatal chinesa CGTN; governo britânico diz que decisão é uma ameaça à 'liberdade dos meios de comunicação'

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Por Redação
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LONDRES - A China proibiu a transmissão do BBC World News no país, uma semana depois de ameaçar retaliar pela recente revogação da licença britânica de transmissão para a estatal chinesa CGTN. 

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A Administração Nacional de Rádio e Televisão (NRTA) da China afirmou que a emissora, que é parcialmente financiada pelo governo britânico, mas é editorialmente independente, "prejudicou os interesses nacionais da China e a solidariedade étnica", segundo informou a agência Xinhua

"Estamos desapontados que as autoridades chinesas tenham decidido seguir esse caminho", disse uma porta-voz da corporação britânica. "A BBC é a emissora mais confiável do mundo e reporta ao redor do mundo de forma justa, imparcial e sem medo ou favorecimento." 

Entrada da sede da BBC em Londres; rede em disputa com a China Foto: Daniel Leal-Olivas/AFP

O ministro britânico das Relações Exteriores, Dominic Raab, qualificou a decisão de Pequim como inaceitável. Em um comunicado, ele afirmou que a proibição era uma restrição inaceitável da liberdade dos meios de comunicação que prejudicará a reputação da China aos olhos do mundo. 

O anúncio, que chegou com o feriado do ano-novo lunar da China, é mais um capítulo em uma série de disputas entre as autoridades chinesas e a BBC.

Ele também ocorre apenas uma semana depois que o próprio regulador de mídia do Reino Unido retirou o canal de televisão estatal chinês CGTN das ondas aéreas britânicas em razão de supostos erros em um pedido de transferência de sua licença para outra empresa. 

Em dezembro, a BBC News produziu uma reportagem que denunciava o trabalho forçado de pessoas da minoria étnica uigur na indústria de algodão da China em Xinjiang. A mídia estatal chinesa se irritou com as reportagens, chamando-as de "notícias falsas" e acusando a BBC de preconceito político. 

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"Longe de serem notícias falsas, nossas evidências, juntamente com a propaganda pós-publicação projetada para miná-las, são a prova de um esforço coordenado para controlar a narrativa, que se estende desde os vigilantes sombrios em carros sem identificação, até o governo nacional", disse John Sudsworth, um dos membros da equipe que registrou a história.

A BBC News também produziu um extenso relatório detalhando as alegações de estupro sistemático nos campos de Xinjiang, onde uigures e outras minorias são mantidas.

A NRTA da China não detalhou exatamente por que a BBC News está sendo retirada do ar, ou como isso pode afetar a equipe da organização no país, mas disse que quaisquer novos pedidos de licença para a BBC News não serão considerados.

O Global Times, um jornal dirigido pelo Partido Comunista Chinês, disse que as regras significavam que o serviço não estaria disponível em nenhum lugar do continente chinês.

Alguns acadêmicos chineses que falaram com o jornal, conhecido por sua posição nacionalista, disseram que o próximo passo pode ser a expulsão dos jornalistas.

O regulador de transmissão britânico conduziu uma investigação concluindo que a licença era detida indevidamente por uma empresa chamada Star China Media Limited que não controlava o conteúdo da CGTN, conforme exigido pela lei britânica./W.POST, AFP, EFE e AP 

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