Em Bagdá, Condoleezza avalia novo plano de segurança

Chefe da diplomacia americana utilizou discurso para pedir unidade e exortou lideranças a utilizarem trégua na violência para acelerar o processo de reconciliação

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Por Agencia Estado
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Em uma visita-surpresa a Bagdá neste sábado, 17, a secretária de Estado americana, Condoleezza Rice, parabenizou as lideranças iraquianas pelos recentes avanços nos primeiros dias após a implementação de um novo plano de segurança na capital. Nos bastidores, entretanto, ela pediu que a operação "deixe o sectarismo de lado", em uma referência ao que classificou como a falta de empenho no combate a insurgência xiita. A chefe da diplomacia americana utilizou seu discurso a políticos iraquianos para pedir unidade e exortou as lideranças a utilizarem a aparente trégua na violência para acelerar o processo de reconciliação nacional. Condoleezza acrescentou, entretanto, que a paciência dos Estados Unidos não vai durar para sempre. "Eles começaram bem", disse ela, referindo-se à atuação das forças de segurança iraquianas na Operação Imposição da Lei. Ela ressalvou, entretanto, que o mais importante é "como os iraquianos irão usar este intervalo na violência". Vista como a última tentativa da administração Bush para acabar com a violência sectária entre árabes xiitas e sunitas, a estratégia consiste na realização de operações conjuntas entre tropas americanas e iraquianas, e deve contar com o envio de um novo contingente de mais de 20 mil soldados dos Estados Unidos nos próximos meses. Embora alvo de críticas de membros da oposição democrata nos EUA, a sensação no Iraque é de que o plano está funcionado. Segundo um porta-voz do Exército iraquiano, a violência teria sido reduzida em 80% nos últimos três dias. Durante sua visita a Bagdá nesta sexta-feira, a secretária de Estado se encontrou como o primeiro-ministro xiita, Nuri al-Maliki, o presidente curdo Jalal Talabini e o vice-presidente sunita Tareq al-Hashemi. Após o encontro, ela disse a repórteres que havia pedido a eles para acelerarem os esforços para uma reconciliação. Ela também discutiu a finalização de uma legislação para divisão da receita do petróleo entre os diferentes grupos étnicos e a realização de eleições regionais. "Os Estados Unidos estão fazendo um grande investimento, principalmente com a vida de nossos homens e mulheres em uniformes. O povo americano quer ver os resultados e não está preparado para esperar para sempre", disse Rice. "(Mas) nós não estamos dizendo para os iraquianos resolverem tudo até uma data X", afirmou ela a repórteres. Apesar do tom positivo das declarações públicas de Condoleezza, nos bastidores nem tudo foi elogios. Segundo um assessor do governo iraquiano que acompanhou as discussões, a secretária teria criticado o caráter sectário do plano de segurança. A fonte, que falou em condição de anonimato, acrescentou que Condoleezza mostrou-se preocupada com o fato de as operações terem se concentrado em regiões sunitas e livrado o principal bastião xiita da capital, a Cidade Sadr. O bairro, que leva o nome do clérigo anti-EUA Muqtada al-Sadr, é dominado pela milícia do religioso, o Exército Mahdi. Violência em Kirku Embora os bombardeios de grandes proporções em Bagdá tenham diminuído, um ataque a bomba no sábado a um mercado lotado na cidade de Kirkuk matou pelo menos 10 pessoas e deixou 60 feridos, segundo fontes da polícia. Ainda assim, um comunicado do gabinete de Maliki informou que a secretária elogiou a operação de segurança em Bagdá e reiterou o apoio da administração Bush ao governo para estabilizar o país. Condoleezza disse ter sido informada por líderes iraquianos sobre o progresso nas leis sobre petróleo. Estabelecer uma lei que distribua igualmente a receita das vastas riquezas em petróleo do Iraque é visto como um passo vital para a reconciliação entre as facções. O governo também promoveu conferências de reconciliação, mas houve pouco progresso nas negociações. Ao deixar Bagdá, Condoleezza dirigiu-se para Jerusalém, onde deverá se encontrar com o primeiro-ministro Ehud Olmert e o presidente palestino Mahmoud Abbas na segunda-feira.

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