Em casa, misiones ''''compram'''' prestígio chavista

Mas apoio a presidente venezuelano não é incondicional; maioria rejeita reeleição irrestrita

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Por Redação
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O único país em que o presidente Hugo Chávez tem largo apoio popular é a Venezuela: lá, 65% do eleitorado lhe atribui imagem positiva, enquanto 27% têm dele uma imagem negativa. Mas esses números escondem uma distorção: a aprovação está diretamente vinculada aos programas assistencialistas que ele mantém - os chamados Misiones -, financiados pelas exportações de petróleo. Entre os que são beneficiados por dez ou mais desses programas, Chávez tem aprovação de 89%; entre os que têm de 7 a 9 programas, a aprovação é de 79%; de 4 a 6 programas, o índice desce para 76%; de 1 a 3 benefícios, cai para 57%; entre os que não têm nenhum benefício, a aprovação é de apenas 25%. O relatório da pesquisa Ipsos afirma que os programas Misiones influenciam diretamente a imagem favorável de Chávez em seu país. A influência não se dá apenas por causa dos benefícios que os programas distribuem às populações pobres, explica o diretor do Ipsos no Brasil, Clifford Young, mas também pela expectativa que cria entre os eleitores que ainda não são beneficiados por eles - mas sonham ser. O Misión Mercal e o Misión Barrio Adentro, por exemplo, são conhecidos por 99% da população; o Misión Ribas, por 97%; e o Misión Robinson, por 96%. CONFIANÇA LIMITADA Os pilares que sustentam a aprovação de Chávez na Venezuela, segundo o Ipsos, são o conjunto de programas sociais universalizados nas faixas mais pobres da população e o alto nível de satisfação com o forte crescimento econômico. "Em geral, os venezuelanos registram altos níveis de otimismo quanto ao futuro", diz Young, lembrando que 63% deles - índice muito próximo à aprovação de Chávez - acreditam que a situação econômica melhorará nos próximos 12 meses. Mas o apoio que o forte estímulo dos programas assistencialistas forja para Chávez não é incondicional. A pesquisa registrou que os cidadãos venezuelanos negam ao presidente uma confiança sem limites - a despeito dos resultados fulgurantes da aprovação de Chávez e seus programas sociais, a população não lhe dá "um cheque em branco". Muitas das políticas de Chávez são apoiadas, como, por exemplo, a ação sistemática para aumentar a intervenção do Estado na economia - 78% das pessoas aprovam a nacionalização da Caracas Energy Company. CASO RCTV Mas no caso recente do fechamento arbitrário da RCTV, a maior emissora privada do país, substituída por uma TV estatal, 59% dos venezuelanos desaprovaram o ato do governo, que só encontrou aprovação de 37%. Mais relevante ainda é que 54% dos cidadãos da Venezuela desaprovam (e só uma minoria de 42% aprova) um número irrestrito de reeleições para Chávez - tema que interessa vivamente ao coronel para se eternizar no poder, em nome da "revolução bolivariana".

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