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Em clima exaltado, cúpula islâmica rejeita a guerra

Por Agencia Estado
Atualização:

A reunião de cúpula extraordinária da Organização da Conferência Islâmica (OCI) expressou em Doha, capital do Catar, sua "rejeição total" à guerra e a recusa de seus países membros em "participar de qualquer ação militar" contra o Iraque, país do qual se deve "preservar a integridade territorial". O comunicado final da reunião satisfez tanto a países como Iraque e Síria, contrários à hipótese de uma guerra, como Kuwait e Catar, que aceitam a presença em seu território de forças americanas e britânicas, mas que não participarão diretamente de um eventual conflito. Só uma quarta parte dos chefes de Estado dos 56 países que aderiram à Organização foram pessoalmente a Doha. Os demais enviaram ministros ou emissários para representá-los no encontro, que se caracterizou por um duríssimo confronto verbal entre o vice-secretário do Comando do Conselho da Revolução iraquiana, Izzat Ibrahim - número dois do regime de Saddam Hussein - e outro delegado, supostamente kuwaitiano. O número dois do governo do Iraque, Izzat Ibrahim, aproveitou a ocasião para indicar que "os dirigentes kuwaitianos são agentes dos EUA", e que os EUA "serão derrotados" se tentarem invadir o Iraque. Como vice-comandante do Conselho da Revolução, máxima instância executiva do país, Ibrahim acusou os kuwaitianos como "traidores da nação islâmica" por hospedarem 100 mil soldados americanos dispostos a "agredir o Iraque". O segundo de Saddam, cujo nome integra a lista dos dirigentes iraquianos que serão detidos em caso de invasão americana do Iraque, acrescentou que desde a Guerra do Golfo de 1991 o "Iraque sofreu grandes perdas anualmente, por causa da traição e do complô dos líderes kuwaitianos com os sionistas e os imperialistas". Foi nesse momento que um dos delegados, aparentemente do Kuwait, reagiu gritando que o braço direito do presidente do Iraque estava pronunciando "palavras de charlatão, de infiel" - ao que Ibrahim lhe respondeu: "Cala o bico, colaborador renegado, macaco, que Deus maldiga teus bigodes!" Além dos insultos, o representante de Saddam tentou em seu discurso pedir aos países islâmicos que não dêem nenhum tipo de assistência logística às Forças Armadas americanas - apesar de que sete países árabes, entre eles o Catar, já terem concedido permissão para que os EUA utilizem seu território, seu espaço aéreo e suas águas territoriais para a ofensiva militar contra o governo iraquiano. Ibrahim tentou mostrar determinação, afirmando que o Iraque dará "aos invasores americanos uma lição da qual não esquecerão jamais", e acrescentou que o "Iraque e Bagdá serão a tumba dos ávidos". O emir de Catar, o xeque Hamad bin Khalifa al-Thani, que presidia a reunião, precisou acalmar Ibrahim para que a sessão pudesse prosseguir. Al-Thani reconheceu que os membros da OCI não têm "poder de decisão sobre o Iraque", mas afirmou que a decisão do grupo poderia "pesar a favor de uma solução pacífica". Muitos dos demais representantes de países islâmicos se manifestaram a favor da paz, enquanto pediam ao Iraque que cooperasse mais com as Nações Unidas, a fim de eliminar os pretextos que possam levar a uma guerra.

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