Em coletiva após eleito, Chávez admite diálogo com EUA

Outro ponto enfatizado pelo presidente reeleito foi seu alto índice de aprovação, que para ele representa o apoio da maioria dos venezuelanos ao socialismo

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Por Agencia Estado
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Na primeira coletiva de imprensa concedida após reeleger-se presidente, o líder venezuelano Hugo Chávez respondeu com cautela nesta terça-feira aos recentes sinais de que os Estados Unidos estariam dispostos a restabelecer o diálogo com o país. "Tomara que essas vozes que surgiram em alguns lugares (dos EUA) sejam autênticas. Se eles querem falar de igual para igual, respeitando nossas posições, estamos dispostos a conversar, mas duvido que este governo dos Estados Unidos seja sincero nisso, tenho razões fortes para duvidar", afirmou Chávez, fazendo referência a declarações de altos funcionários americanos que falaram em buscar vias para melhorar as relações com a Venezuela. Outro ponto bastante enfatizado por Chávez durante a rodada de perguntas foi seu alto índice de aprovação, que para ele representa o apoio da maioria da população venezuelana a uma mudança radical em direção ao socialismo no país. "Aqueles que votaram por mim, não votaram por mim. Eles votaram pelo plano socialista, pela construção de uma Venezuela profundamente diferente", disse o presidente, que definiu o socialismo como única forma de se atingir a democracia. A coletiva foi realizada logo após a confirmação oficial da vitória de Chávez, que derrotou o principal oposicionista Manuel Rosales com aproximadamente 63% dos votos. A participação popular no pleito também foi recorde, com cerca de 75% do eleitorado saindo às ruas para votar. O voto não é obrigatório na Venezuela. Chávez também agradeceu o oposicionista Manuel Rosales, que aceitou a derrota. "Eu quero parabenizar a responsabilidade da oposição. Já era tempo de eles assumirem uma atitude verdadeiramente democrata." Aproximação com os EUA Logo após a confirmação da vitória de Chávez, na segunda-feira, a administração americana parabenizou o povo venezuelano pela eleição presidencial de domingo, e disse que espera poder ter "uma relação positiva e construtiva com o governo da Venezuela". Mas Chávez, por sua vez, argumentou que os EUA já tentaram anteriormente uma aproximação com seu país, mas sempre "com condições". Chávez indicou que um diálogo aberto e em condições iguais com Washington deve conter temas como o "respeito à dignidade e às decisões" não apenas de "Venezuela, mas dos povos da América Latina", assim como a retirada das tropas americanas do Iraque. Também teria que ser discutida a extradição para a Venezuela do anticastrista Luis Posada Carriles - "pai dos terroristas" nas palavras de Chávez - que está "protegido" nos Estados Unidos, acrescentou. Posada Carriles, naturalizado venezuelano nos anos 70, está preso nos EUA desde maio de 2004, e a Venezuela pede sua extradição pelo caso da explosão, em 1976, de um avião da empresa Cubana de Aviación, que deixou 73 mortos. "Eles (o governo dos EUA) não querem ouvir isso porque se acham os donos do mundo", manifestou Chávez. Os Estados Unidos continuam sendo o maior comprador do petróleo venezuelano, mas as tensões sempre permearam o diálogo entre os dois países: Chávez acusa Washington de apoiar um golpe de Estado contra ele em 2002, enquanto os Estados Unidos temem pela saúde da democracia na Venezuela chavista.N

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