Em Cuba, papa pede que fiéis rejeitem espírito de ‘resistência à mudança’

Pontífice elogiou iniciativas de católicos locais, que mantêm cerca de 70 ‘casas de missão’ para compensar a ausência de templos na região

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Por Felipe Corazza e HAVANA
Atualização:

O papa Francisco afirmou ontem em Cuba que é preciso perder o espírito de “resistência à mudança” e elogiou as iniciativas locais conhecidas como “casas de missão” como forma eficaz de compensar a carência de templos e de sacerdotes católicos na ilha após décadas de repressão oficial às religiões.

As casas de missão, centros organizados por fiéis e missionários, são “pequenos sinais da presença de Deus na terra”, afirmou o pontífice durante a missa que rezou na cidade de Holguín, onde passou algumas horas antes de seguir viagem para Santiago de Cuba.

Papa Francisco é recebido pelo presidente cubano, Raúl Castro, em Holguín Foto: Tony Gentile / EFE

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Apenas na cidade onde o papa fez o reconhecimento de sua importância, as casas de missão são estimadas em 70. 

O presidente cubano, Raúl Castro, participou da celebração na Praça Calixto García. O líder do regime também havia participado da missa rezada por Francisco na Praça da Revolução, em Havana, no dia anterior. 

Diante do líder cubano, o pontífice afirmou na celebração: “Jesus vai à frente, precede-nos, abre o caminho e convida-nos a segui-lo. Convida-nos a ir superando lentamente os nossos preconceitos, as nossas resistências à mudança dos outros e até de nós mesmos.”

A escolha da cidade de Holguín para uma das etapas da viagem foi avaliada pelo teólogo brasileiro frei Betto como estratégica pela proximidade da cidade com a base naval de Guantánamo. 

Reivindicação. Falando ao Estado, em Havana, o teólogo disse acreditar que houve intenção de reforçar o apoio do Vaticano ao pedido cubano de devolução do território da base. A reivindicação, ao lado da derrubada do embargo econômico, é uma das mais firmes exigências do regime cubano no processo de retomada da relação com Washington. 

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A negociação foi mediada pelo Vaticano. O porta-voz da Santa Sé, o padre Federico Lombardi, negou ontem, no entanto, que a escolha da cidade de Holguín tivesse alguma motivação política.

“Um dos critérios (para escolha das cidades) é levar em conta as que nunca receberam um papa. Por questão de protocolo, sempre vamos às capitais e, em seguida, avaliamos as outras. Não houve nenhum motivo além disso (para a escolha de Holguín).”

O papa rezará na manhã de hoje a última missa desta passagem pelo território cubano. A celebração está prevista para 9 horas (horário de Brasília) no Santuário de Nossa Senhora da Caridade do Cobre, padroeira de Cuba, em Santiago de Cuba. 

Após a missa, Francisco seguirá para uma visita à catedral da cidade, onde também realizará um encontro com famílias. A partida do papa rumo aos Estados Unidos está prevista para as 13h30. 

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Dissidência. O regime cubano aumentou ontem a vigilância sobre grupos de dissidentes após um integrante de um deles ter conseguido chegar perto do papamóvel no domingo, em Havana. 

A União Patriótica de Cuba (UPC), que tem sede em Santiago, identificou ontem o manifestante como Zaqueo Baez Guerrero, de 34 anos, morador da capital e integrante do grupo. 

O líder da UPC, Jose Daniel Ferrer, afirmou ontem que Guerrero conseguiu dizer ao papa que o regime cubano “é uma ditadura que oprime o povo” antes de ser detido por agentes de segurança. Outros grupos, como as Damas de Branco, também têm afirmado que a repressão aumentou por ocasião da visita papal. 

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