PUBLICIDADE

Em discurso, Brown reivindica direito de disputar sucessão de Blair

Ministro das Finanças tentou agradar tanto a ala moderada do partido quanto a ala considerada de esquerda

Por Agencia Estado
Atualização:

O ministro britânico das Finanças, Gordon Brown, reivindicou nesta segunda-feira na convenção dos trabalhistas, na cidade inglesa de Manchester, seu direito a disputar pelo partido a sucessão do primeiro-ministro Tony Blair nas eleições de 2009. Tido como o sucessor natural de Blair no trabalhismo, o ministro teve uma recepção calorosa a seu discurso, considerado crucial para sua ambição de ser escolhido para liderar o partido, na convenção do ano que vem. Blair já avisou, semanas atrás, que em 2007 deixará o cargo e a chefia do governo. Pelo sistema parlamentar britânico, o líder do partido é o candidato natural a primeiro-ministro. Brown procurou tranqüilizar os moderados do partido, ligados a Blair, ao prometer continuar com as políticas centristas e pró-mercado. Ao mesmo tempo, buscou agradar à ala esquerda, que perdeu poder durante o governo de Blair. Para isso, defendeu mais gastos com educação, descentralização dos poderes do governo e apoio à luta contra o aquecimento global. Também elogiou Blair efusivamente e disse lamentar a recente luta de poder no partido (ele foi acusado de ter incitado uma rebelião para pressionar Blair a antecipar sua saída do governo). "Tony, você ensinou-nos alguma coisa a mais, e uma vez mais você estava certo. O mundo realmente mudou depois do 11 de Setembro e nós, a Grã-Bretanha, temos novas responsabilidades", afirmou, acrescentando que o Partido Trabalhista não deve "sucumbir ao antiamericanismo". Mas quando elogiou o endosso de Blair à guerra ao terror lançada pelo presidente americano, George W. Bush, Brown também contemporizou com a esquerda trabalhista, que se opôs ao envolvimento britânico na invasão do Iraque, em março de 2003. Disse que o Parlamento deveria ser obrigatoriamente consultado antes de uma decisão de ir à guerra. Pela legislação, Blair não precisava do apoio parlamentar para a decisão de enviar tropas ao Iraque. Mas obteve esse aval, apesar da oposição da ala esquerda do trabalhismo: dois dias antes do início do conflito, uma moção aprovando o uso de forças britânicas foi aprovada por 412 a 149 no Parlamento. O ponto alto do discurso foi o momento em que Brown se apresentou, com confiança e determinação, como o candidato para suceder a Blair. "Confio em que minha experiência e meus valores me dão a força para tomar decisões difíceis. Eu gostaria de ter a oportunidade de enfrentar David Cameron e o Partido Conservador", disse Brown, que nesse momento foi fortemente aplaudido. Novo líder dos conservadores, Cameron vem liderando as pesquisas de intenção de voto, embora as eleições parlamentares só estejam previstas para 2009. No começo do ano, Brown liderava as enquetes de opinião enquanto a popularidade de Blair despencava. Por isso nas últimas semanas, Blair estava sob forte pressão interna para deixar a chefia do partido. Nos meios políticos comentava-se que Brown era o arquiteto por trás desse movimento, o que aparentemente abalou as relações entre os dois e se refletiu nas pesquisas. Uma sondagem publicada nesta segunda-feira pelo diário Daily Telegraph mostrou que os britânicos agora preferem Blair como primeiro-ministro em vez de Brown. E se tivessem de optar entre Brown e Cameron, ficariam com o conservador.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.