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Em discurso, Obama tenta hoje justificar ataques com drones

Líder explicará o que foi obtido com o uso dos aviões não tripulados, que mataram suspeitos de terrorismo e também civis

Por WASHINGTON
Atualização:

No seu primeiro mandato, o presidente Barack Obama autorizou ataques com drones e também o assassinato de suspeitos de terrorismo, ações que acabaram por definir sua presidência. Mas perdido nesse polêmico debate sobre a legalidade, moralidade e eficácia da nova arma está o fato de que o número de ataques de drones caiu. No Paquistão, eles atingiram seu pico em 2010 e a partir daí diminuíram vigorosamente. No Iêmen, o número de drones usados este ano caiu para a metade do ano passado. E há mais de um ano nenhum ataque com drones ocorreu na Somália. Hoje, em um discurso há muito tempo aguardado que vai proferir na Universidade da Defesa Nacional, Obama deverá tentar justificar os ataques e o que foi conseguido com eles. E poderá também fazer algumas promessas, incluindo a feita em seu discurso sobre o Estado da União em fevereiro, de definir uma "arquitetura legal" para a escolha dos alvos, possivelmente transferindo mais ações da CIA para o Exército. Ele também tentará explicar por que acredita que presidentes em exercício devem "ter o domínio" do poder letal; e deve se referir a medidas para que este programa envolto em segredo seja mais transparente. Antecipando o discurso, no domingo um funcionário do governo disse que Obama também "deseja rever a política de detenção e as medidas para fechar a prisão de Guantánamo; e traçar o futuro da estratégia contra a Al-Qaeda, seus grupos afiliados e seguidores". Alguns partidários de Obama têm insistido para ele aproveitar a ocasião e anunciar que parte de um estudo de 6 mil páginas do Senado sobre o antigo programa de interrogatórios da CIA deixará de ser confidencial e será aberto ao público. Obama, que no início da sua presidência insistiu numa participação pessoal em muitas decisões de ataques, poderá também prestar esclarecimentos sobre o declínio dos ataques com drones. Segundo diversas autoridades, entre as razões dessa redução está o fato de a lista de alvos importantes da Al-Qaeda ter encolhido, resultado do sucesso de ataques realizados no passado, além de fatores transitórios que vão desde o mau tempo até pressões diplomáticas. Mas num sentido mais amplo, o declínio também reflete uma mudança de cálculo dos custos e benefícios no longo prazo desses ataques contra alvos específicos. Membros do governo Obama algumas vezes compararam a relativa precisão, a economia e a proteção dos americanos, envolvidas nesse programa, com os enormes custos em termos de vidas e dinheiro resultantes das guerras no Iraque e no Afeganistão. Mas, com o tempo, os custos dos ataques com drones ficaram mais evidentes. Notícias de civis inocentes mortos em ataques de drones - verdadeiras ou exageradas, como algumas autoridades garantem - prejudicaram as alegações de que os alvos dos ataques são precisos. E esses ataques de drones tornaram-se um elemento básico da propaganda da Al-Qaeda para corroborar a ideia de que os EUA estão em guerra contra o Islã. Esses ataques são descritos pelos terroristas como uma razão para seus crimes, incluindo os fracassados atentados contra um avião que seguia para Detroit em 2009 e na Times Square em 2010. E, especialmente, um número cada vez maior de ex-oficiais da segurança dos governos Bush e Obama tem manifestado preocupação de que os ganhos no curto prazo com os ataques de drones, eliminando militantes específicos, são contrabalançados pelo custo estratégico de longo prazo."Penso que os ataques foram tremendamente eficazes", afirmou Michael Hayden, ex-diretor da CIA. Uma das ambições de Obama era forjar uma nova imagem dos EUA no mundo muçulmano. Mas os ataques de drones, juntamente com o fato de o presidente não ter cumprido sua promessa de fechar a prisão de Guantánamo, colaboraram para as quedas recorde nos índices de aprovação dos EUA em muitos países muçulmanos. No Paquistão, por exemplo, 19% dos entrevistados pelo Pew Research Center afirmaram ter uma visão positiva dos EUA no último ano da presidência de George W. Bush. Em 2012, esse índice de aprovação caiu para 12%. / NYT

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