
08 de dezembro de 2010 | 00h00
ESTOCOLMO
O escritor peruano Mario Vargas Llosa elogiou ontem a América Latina por ter se tornado mais democrática, mas criticou Venezuela e Cuba e chamou de "palhaços" os governos de Bolívia e Nicarágua. Em seu discurso de aceitação do Prêmio Nobel de Literatura, Vargas Llosa disse que "pela primeira vez em nossa história temos uma esquerda e uma direita que, como no Brasil, Chile, Uruguai, Peru, Colômbia, República Dominicana, México e quase toda a América Central, respeitam a legalidade, a liberdade de crítica, as eleições e a renovação no poder".
"Padecemos de menos ditaduras do que antes, somente Cuba e sua candidata a substituí-la, Venezuela, e algumas pseudo democracias populistas e palhaças, como as da Bolívia e da Nicarágua", acrescentou.
O escritor peruano é o primeiro ganhador latino-americano do Nobel de Literatura desde o colombiano Gabriel García Márquez, em 1982, e o mexicano Octavio Paz, em 1990.
Vargas Llosa, que se candidatou, sem êxito, à presidência do Peru em 1990, pediu aos líderes latino-americanos que se mantenham nesse caminho. "Esse é um bom caminho... se perseverarem nele, combatendo a insidiosa corrupção e se integrando no mundo, a América Latina deixará, por fim, de ser o continente do futuro e passará a ser o do presente". Ele também criticou as nações ocidentais por não se oporem com mais dureza contra ditaduras como as da China e de Mianmar e Cuba. "As ditaduras devem ser combatidas sem contemplação, por todos os meios ao nosso alcance, incluindo as sanções econômicas."
"Levo meu país em minhas entranhas", declarou. Segundo o escritor foi no Peru que nasceu, cresceu, se formou e viveu "aquelas experiências de infância e juventude que modelaram" sua personalidade e forjaram sua vocação, que o levou a ser reconhecido com o mais prestigioso prêmio de literatura, que lhe será entregue na sexta-feira pelo rei Carlos Gustavo da Suécia.
O autor de A Casa Verde, entre outros títulos, assegurou que no Peru amou, odiou, sofreu e sonhou e o que acontece nesse país o afeta, o comove e exaspera "mais do que com o que ocorre em outras partes". Sob o título "Elogio à leitura e à ficção", o escritor, de 74 anos, pronunciou o discurso de uma hora de duração diante de sua mulher, Patricia, seus filhos e netos.
Vargas Llosa lembrou que alguns compatriotas o chamaram de traidor e esteve a ponto de perder sua cidadania quando, durante a ditadura, pediu aos governos democráticos do mundo "que punissem o governo (peruano) com sanções diplomáticas e econômicas como fizeram com todas as ditaduras de qualquer índole". Um pedido que, assegurou, voltaria a fazer "se - que o destino não deseje e os peruanos não permitam - o Peru fosse vítima novamente de um golpe de Estado que aniquilasse nossa frágil democracia". / AP e EFE
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