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Em entrevista, Putin diz que Trump é 'homem brilhante' e Blatter merece o Nobel da Paz

Pela primeira vez, admite, durante coletiva com quase 1,4 mil jornalistas, que mantém pessoal russo no leste da Ucrânia realizando 'certas tarefas militares'

Atualização:

MOSCOU - O presidente da Rússia, Vladimir Putin, concedeu nesta quinta-feira, 17, uma longa entrevista coletiva na qual respondeu perguntas sobre vários temas, desde questões sensíveis como as relações com a Turquia e Síria até polêmicas, como chamar o pré-candidato à Casa Branca Donald Trump de "homem brilhante e líder absoluto". 

No evento anual, 1.392 jornalistas estavam credenciados para fazer as perguntas. Ele foi transmitido ao vivo pelas principais redes de rádio e televisão do país. Veja os principais pontos da entrevista. 

Um totoal de 1.392 jornalistas tentam fazer uma pergunta na coletiva anual de Vladimir Putin Foto: EFE/Sergei Chirikov

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Ucrânia 

Pela primeira vez, Putin admitiu que mantém pessoal russo no leste da Ucrânia realizando "certas tarefas militares". No entanto, ele negou ter posicionado tropas em território ucraniano. 

"Nós nunca dissemos que não havia pessoas realizando certas tarefas, incluindo na esfera militar", disse Putin. "Mas isso não significa que haja tropas russas (regulares) lá. Veja a diferença."

Putin disse que a Rússia está disposta a convencer os separatistas no leste da Ucrânia de que é necessário um acordo para alcançar uma solução política para o conflito na região.

Ele também afirmou prever a piora das relações comerciais com a Ucrânia, mas disse que a Rússia não iria impor sanções sobre Kiev relacionadas com o seu acordo comercial com a União Europeia.

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Economia 

A crise com a Ucrânia acabou afetando a economia russa. Depois que Moscou anexou o território da Crimeia, no início do conflito, as grandes nações ocidentais responderam com a aplicação de sanções econômicas, que afetaram a economia do país, que já passava por problemas. 

No entanto, segundo Putin, o país superou o pior momento e há "sinais de estabilização" da atividade econômica. Entre as conquistas, Putin destacou que observa "estabilidade no mercado de trabalho" e o desemprego, que está em torno de 5,6%.

Ele admitiu que as trocas comerciais do país diminuíram, mas destacou que apresenta um saldo favorável "bastante importante", que avaliou em US$ 126,3 bilhões.

O presidente russo ressaltou como indicador muito positivo a diminuição da dívida externa. "É o outro lado da moeda das chamadas sanções", disse Putin, em referência às restrições econômicas ocidentais.

Síria 

Segundo Putin, os bombardeios da aviação russa, conduzidos na Síria desde 30 setembro, não apoiam apenas as forças do governo Bashar Assad, mas também a oposição que luta contra o grupo jihadista Estado Islâmico (EI). 

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"Era a ideia de (presidente francês) François Hollande tentar reunir os esforços do Exército sírio e de ao menos uma parte da oposição armada na luta contra o EI.  Conseguimos isso em parte", afirmou. Segundo Putin, Moscou está em contato na Síria com integrantes da oposição "que querem combater o EI e o estão fazendo".

Desde o começo da intervenção militar russa na Síria, os países ocidentais e as ONGs acusam a Rússia de tomar como alvo a oposição a Assad, e não os jihadistas do EI.

Além disso, Putin garantiu que Moscou apoiará a resolução proposta pelos EUA no Conselho de Segurança da ONU para combater o financiamento do EI. A resolução deve ser votada ainda nesta quinta-feira. 

Putin explicou que o secretário de Estado americano, John Kerry, apresentou o projeto a ele na terça-feira no Kremlin e o presidente o qualificou de "proposta aceitável".

Com relação ao futuro do presidente sírio, Putin insistiu que "só o povo sírio deve decidir quem deve governá-los, com que padrões e com que regras".

Avião cai em área montanhosa após ser derrubado por jatos turcos Foto: Haberturk TV / AP

Turquia 

Em um momento de tensão nas relações com a Turquia, após a derrubada de um caça russo no mês passado por forças turcas, Putin disse que "não vê probabilidade" de melhora. 

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"É difícil alcançarmos um acordo com a atual liderança turca", disse Putin, acrescentando que a derrubada do avião de guerra foi "um ato de inimizade" e não entendia o motivo da Turquia.

"O que eles alcançaram? Talvez, eles pensaram que iríamos correr para longe de lá (Síria)? Mas a Rússia não é um país assim", acrescentou. 

Trump 

Com relação a temas polêmicos, Putin foi questionado sobre o pré-candidato republicano à Casa Branca Donald Trump. "É uma pessoa muito brilhante e de talento, sem dúvida alguma. Não é assunto nosso destacar suas qualidades, mas é o líder absoluto na corrida presidencial", afirmou Putin.

Putin destacou que "Trump diz que quer passar a outro nível as relações com a Rússia, para relações mais sólidas e profundas". "Por acaso podemos não elogiar isto? Naturalmente, nós o cumprimentamos", disse.

Ao mesmo tempo, Putin se negou avaliar o fato de Trump usar uma infinidade de argumentos para aumentar sua popularidade entre os eleitores, como quando propôs proibir a entrada de muçulmanos em seu país.

Putin manteve uma boa relação com o anterior presidente republicano, George W.Bush, especialmente depois dos atentados de 11 de setembro de 2011. 

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Por outro lado, desde que Putin retornou ao Kremlin em 2012, suas relações foram especialmente frias com o atual chefe da Casa Branca, Barack Obama, que não escondeu que preferia que o atual primeiro-ministro, Dmitri Medvedev, se mantivesse como líder. 

Blatter 

Não faltaram elogios também para o presidente suspenso da Fifa, Joseph Blatter, suspeito de envolvimento em casos de corrupção na organização responsável pelo futebol mundial. 

"Se houve sinais de corrupção na Fifa, a investigação deve mostrar. Em relação a Joseph Blatter, ele é uma pessoa muito respeitada, ele fez muito pelo desenvolvimento do mundo do futebol. Ele deve ser premiado com o Prêmio Nobel da Paz", disse Putin.

O presidente da Rússia, Vladimir Putin, e suas filhas Maria e Katerina Foto: Reprodução

Família 

Tradicionalmente discreto com relação à sua vida privada, Putin fez um raro comentário sobre suas duas filhas. Questionado sobre elas, Putin respondeu ter muito orgulho das duas- Maria, nascida em 1985, e Katerina, de 1986.

Segundo ele, elas estudaram e vivem na Rússia e nunca viveram no exterior. Ele disse que preserva suas identidades por várias razões e a principal delas é a segurança. 

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"Minhas filhas falam corretamente três idiomas europues que utilizam em seu trabalho", disse. "Não estão nem nos negócios, nem na polícia. Vivem simplesmente sua vida e o fazem de maiera muito digna", destacou.

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