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Em entrevistas, militares revelam os dias de cativeiro no Irã

Governo britânico quebra protocolo ao permitir que militares aprisionados vendam suas histórias para a imprensa; a estimativa é que eles ganhem até 250 mil libras

Por Agencia Estado
Atualização:

As histórias dos 15 militares britânicos aprisionados pelo Exército iraniano ganha espaço nos jornais europeus desta segunda-feira, 9. De acordo com três marinheiros, eles temeram a morte durante os dias de aprisionamento. A única mulher entre os capturados, Faye Turner afirmou que chegou a acreditar que seu caixão estivesse sendo produzido, quando tomaram as medidas de seu corpo. Embora o regulamento militar proíba, o governo britânico resolveu abrir uma exceção e liberou os soldados a contar suas histórias, podendo ficar com o dinheiros que receberem em troca. A estimativa é de que eles ganhem até 250 mil libras. Na edição desta segunda-feira do sensacionalista The Sun, a militar Faye Turner relatou: "uma manhã, escutei pessoas serrando madeira e martelando pregos perto da minha cela. Não podia entender o que era. Então, uma mulher entrou na minha cela e me mediu da cabeça aos pés com uma fita. Eu estava convencida de que estavam fazendo meu caixão", relatou Turner, de 26 anos. No domingo, Turner concedeu uma entrevista à ITV, em que afirmou que foi pressionada a escrever cartas de reconhecimento de invasão do espaço iraniano e que elas não representam a verdade. "Quando quiseram que eu escrevesse o que foi escrito sobre as tropas britânicas e americanas, me senti como uma traidora", disse. O jornal russo Izvestia publicou nesta segunda-feira, a entrevista do infante da Marinha britânica Joe Tindell , que afirmou que ele e os outros 14 militares capturados pelo Irã pensavam que seriam executados. "Primeiro nos levaram a uma base militar e depois a Teerã. Achamos que nos levariam ao consulado britânico, mas terminamos na prisão. Isto foi um choque para todos nós. Pensamos que nos executariam", diz Tindell, de 21 anos. Segundo o militar, os iranianos que os interrogaram, os ameaçaram afirmando que a Justiça iraniana os condenaria a sete anos de prisão, se não reconhecessem "ter penetrado em águas iranianas" e se desculpassem na imprensa e na televisão. "Os militares que nos interrogavam mudaram o uniforme caqui por um traje preto. Nesse momento, já não víamos seus rostos. Começaram a comportar-se de maneira agressiva. Foi horrível", disse. O mais jovem do grupo de militares, Arthur Batchelor disse que "chorou como um bebê" em sua cela depois que foi vendado, algemado e insultado pelos guardas. "Fiquei absolutamente exausto pela pressão", disse ele ao Daily Mirror. "Em alguns momentos temi ser estuprado ou morto." Vendas pegaram mal A decisão do Ministério da Defesa britânico de permitir que o grupo venda suas história provocou furor no país. Os 15 foram capturados por forças iranianas no Golfo Pérsico e passaram 13 dias presos. O Irã diz que eles estavam em suas águas, o que a Grã-Bretanha nega. Até agora, somente Turney e Batchelor venderam suas histórias, provocando tantas críticas que talvez os outros desistam. Turney, que tem uma filha de três anos e que dará uma entrevista em horário nobre na televisão nesta segunda-feira, disse que foi mantida isolada por cinco dias. Ela tornou-se símbolo da crise ao ser mostrada na televisão iraniana com a cabeça coberta e fumando nervosa. O Irã divulgou três cartas que teriam sido escritas por Turnye. Uma delas diz que foi sacrificada por causa das políticas dos governos dos Estados Unidos e da Grã-Bretanha. A televisão iraniana mostrou no domingo novas imagens dos 15 jogando tênis de mesa e xadrez e vendo futebol na televisão, em aparente contradição à descrição do tratamento que receberam. Imagens anteriores mostraram os 15 sorrindo e aparentemente tranqüilos. O Sun não disse se pagou, nem qual teria sido a quantia, pela entrevista com Turney. Mas o Guardian disse que ela fez um acordo conjunto com o Sun e com a ITV por quase 100 mil libras, quatro vezes seu salário anual.

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