Em La Matanza, reduto peronista, Macri enfrenta dificuldades

Segundo maior município da Argentina, com dois milhões de habitantes e cerca de 4% do eleitorado do país, muitos habitantes da cidade estão insatisfeitos com Macri

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Por Luciana Dyniewicz
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La Matanza é o segundo maior município da Argentina, com dois milhões de habitantes e cerca de 4% do eleitorado do país, o equivalente a uma província de médio porte, como Tucumán. Governada por peronistas – símbolos do populismo na Argentina – desde o retorno da democracia ao país, em 1983, a cidade ficou famosa como a “capital nacional do peronismo”.

O açougueiro Ángel Daviche, de 44 anos, que vem observando, mês após mês, suas vendas diminuírem Foto: Luciana Dyniewicz / ESTADAO

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La Matanza fica no conurbano de Buenos Aires, onde estão cidades mais pobres e com índices de violência mais elevados que a capital. Ali, trabalha o açougueiro Ángel Daviche, de 44 anos, que vem observando, mês após mês, suas vendas diminuírem. O açougue em que Daviche trabalha vende hoje apenas carne de frango e porco, mais baratas. O negócio já trabalhou com carne bovina, ainda que o produto nunca tenha sido o forte da casa. Há oito meses, porém, não há mais sinais de carne de boi no local.

A situação do açougue reflete a realidade argentina. Apesar de serem apaixonados por churrascos, os argentinos tiveram de reduzir o consumo nos últimos meses por causa dos preços. Segundo dados da Câmara da Indústria e Comércio de Carnes e Derivados da Argentina (Ciccra), a média anual de consumo de carne bovina registrada entre janeiro e maio deste ano ficou em 50,5 kg por habitante. É o menor número desde 2011, e representa uma queda de 12% na comparação com o mesmo período do ano passado.

Na última terça-feira, a algumas quadra do açougue da Daviche, Roberto Basilota, de 61 anos, estacionou seu carrinho de pipoca e doces. Oito meses atrás, Basilota era um pequeno empresário dono de três lojas de colchões. Empregava 11 funcionários, todos recém-demitidos. 

“Há uma grande decepção com a economia. Fazia algum tempo que eu já vendia muito pouco. Colchão é uma coisa cara”, diz. Suas economias, cerca de 300 mil pesos (R$ 30 mil), foram todas para pagar os direitos trabalhistas dos empregados. Agora, vive com a aposentadoria de 11 mil pesos (R$ 1,1 mil) da mulher e consegue mais uns 700 pesos por dia com as vendas do seu carrinho. A filha de Basilota, que ajudava em uma das lojas, está desempregada e o genro, trabalhando como motorista de Uber. 

Apesar da deterioração do seu padrão de vida no último ano, Basilota diz que votará em Macri. Para ele, os escândalos de corrupção do período Kirchner pesam mais que a crise econômica do País – pessoas como Basilota são a esperança de Macri.

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