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Em Little Havana, exilados comemoram com cautela

Cubanos que moram em Miami mostram otimismo, mas consideram renúncia insuficiente

Por Carmen Gentile e MIAMI
Atualização:

Em meio ao som de buzinas de carros e agitando bandeiras de Cuba, pequenas multidões reuniram-se na manhã de ontem em Little Havana, bairro da comunidade de exilados cubanos em Miami, para comemorar a renúncia de Fidel Castro. Os grupos eram formados principalmente por cubanos que fugiram do país há anos e normalmente passam os dias tomando "café cubano" - similar ao expresso - e compartilhando lembranças sobre a pátria. Sob chuva, exibiram cartazes de protesto contra Fidel e de celebração pelo novo momento: "Cuba livre!", "A hora é agora" e "Fora de Cuba os criminosos castristas". Apesar dos protestos, os cubanos de Miami manifestaram um otimismo cauteloso, pois não têm certeza de que a saída do presidente abrirá caminho para reformas. "Estamos esperando a morte de Fidel Castro", declarou Alfredo García Menocal, dirigente do grupo de exilados Conselho do Presídio Político Cubano. "Pode ser que (depois deste anúncio) façam algumas mudanças para entreter o povo. Mas queremos eliminar a cúpula comunista para que haja um governo democrático." José Plancia, de 73 anos, que deixou a ilha em 1968, também comemorava. "Estou feliz com o fim de quase 50 anos de repressão sob Fidel", disse Plancia. "Raúl não tem o mesmo poder do irmão. Mas não vejo nenhuma mudança de verdade." O fisioterapeuta Juan Acosta, de 58 anos, foi mais radical: "É bom que ele deixe o poder, mas será melhor se ele morrer", afirmou. A decisão de Fidel de não buscar um novo mandato chegou aos cubanos de Miami na madrugada de ontem, quando um anúncio do próprio líder foi publicado na versão online do jornal estatal Granma. A notícia pegou de surpresa os cerca de 650 mil exilados cubanos. Só após alguns momentos de hesitação é que foram iniciados os festejos. A polícia de Miami informou que estava "vigiando de perto" a movimentação no bairro. O porta-voz da Guarda Costeira, Chris O?Neil, declarou que não houve necessidade de mais patrulhamento na costa da Flórida. A principal organização de exilados cubanos nos Estados Unidos, a Fundação Nacional Cubano Americana (FNCA), emitiu um comunicado para comemorar o "encerramento de um capítulo escuro" da história cubana. "O regime de terror que (Castro) instaurou por meio século chegou ao fim, embora perdure o sistema que ele criou há tantos anos para manter o controle total da população", disse a FNCA. "Há aqui uma oportunidade histórica para que a cúpula cubana, entre eles o aparente sucessor Raúl Castro, tome medidas importantes na direção da mudança democrática." PESSIMISMO Apesar dos festejos, houve quem não visse avanço algum na renúncia de Fidel. "Comemorar o quê? A escravidão de Cuba?", questionou o comerciante Ibrahim Reyes, de 68 anos. Para o bombeiro José Lazcano, não haverá nenhuma mudança relevante enquanto "os dois irmãos" não deixarem Havana. "A situação só vai melhorar quando houver uma revolução popular", emendou. COM AP, AFP E REUTERS

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