Em livro, Bush revela planos para atacar instalações nucleares do Irã

Ex-presidente dos EUA fala sobre bastidores da Casa Branca e do Pentágono em suas memórias

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WASHINGTON - O ex-presidente dos EUA George W. Bush planejava atacar o Irã para impedir o país de ter acesso a armas nuclear, informou o jornal britânico The Guardian nesta terça-feira, 9. O diário teve acesso a um exemplar da obra "Decision Points" (Momentos decisivos, em tradução livre), lançada hoje, na qual Bush  fala de decisões polêmicas tomadas durante seu governo.

 

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No livro, Bush conta que ordenou o Pentágono a "estudar o que seria necessário para atacar o Irã" para a nação islâmica não conseguisse montar um arsenal nuclear. Bush teria considerado também um ataque contra a Síria.

 

"Instruí o Pentágono a estudar o que seria necessário para um ataque. Isso para paralisar a bomba-relógio, pelo menos temporariamente", escreveu Bush no livro de quase 500 páginas.

 

Segundo a obra, alguns assessores acreditavam que um ataque ao Irã fortaleceria a oposição no país islâmico, enquanto outros pensavam que a ação estimularia o sentimento antiamericano nos iranianos. "Uma coisa é certa: os EUA jamais devem permitir que o Irã ameace o mundo com uma arma nuclear", escreve o ex-presidente.

 

Bush também escreveu sobre um ataque planejado contra uma usina nuclear na Síria em 2007. O americano desistiu da investida contra o complexo, posteriormente destruído por Israel.

 

Bush escreve que recebeu informações de que a usina teria fins "suspeitos" e que conversou por telefone com o então primeiro-ministro israelense, Ehud Olmert, sobre um possível ataque. "George, estou pedindo para você bombardear o local", disse o israelense a Bush, segundo descreve o livro.

 

O americano diz que alegou a Olmert que não poderia atacar sem a certeza de que a usina tinha como objetivo a construção de armas nucleares - posição não utilizada na invasão do Iraque, onde jamais foram encontradas armas de destruição em massa, como alegava Bush.

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Olmert, por sua vez, disse que a estratégia de diplomacia sugerida por Bush era "perturbadora" e optou pelo ataque. "Ele não pediu um sinal verde. Eu não dei o sinal verde. Ele fez o que achou necessário fazer para proteger Israel", alega o ex-presidente.

 

Ainda no livro, o ex-presidente diz ter uma "sensação de enjoo" a cada vez que pensa sobre o fracasso em encontrar armas de destruição em massa no Iraque, depois da invasão de 2003 que tirou Saddam Hussein do poder.

 

Em entrevista à rede CBS, justamente para promover o livro, Bush se negou a se desculpar pela invasão. "Pedir desculpas seria basicamente dizer que aquela foi uma decisão errada. E eu não acredito que tenha sido uma decisão errada", disse ele na primeira entrevista na televisão desde que deixou a Casa Branca, em 2009.

 

As declarações são similares aos comentários expostos em suas memórias. "Apesar de todas as dificuldades que seguiram (à decisão de invadir o Iraque), os EUA estão mais seguros sem um ditador homicida que perseguia armas de destruição em massa e apoiava o terrorismo no coração do Oriente Médio", disse Bush.

 

Segundo o ex-presidente, ainda pode demorar um pouco até que a história seja capaz de julgar seu período na presidência. "Espero ser considerado um sucesso. Mas eu vou estar morto quando eles finalmente perceberem."

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