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Em meio a ataques, Francisco condena violência de indígenas radicais no Chile

Em uma semana, mais de dez igrejas católicas, uma escola e três helicópteros de madeireiras foram incendiados no país; região visitada pelo pontífice está no centro de uma disputa entre grupos da etnia mapuche e o governo chileno

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Por Redação
Atualização:

TEMUCO, CHILE - O papa Francisco condenou nesta quarta-feira, 17, a violência de indígenas no Chile. A passagem do pontífice por Temuco, no sul do país, foi marcada por uma série de ataques atribuídos a radicais mapuches, etnia indígena que reivindica direito à terra. Ao menos duas igrejas católicas e uma escola foram incendiadas, assim como três helicópteros usados por empresas madeireiras. Em uma semana, mais de dez templos cristãos foram atacados.

Durante missa em Temuco, no Chile, papa Francisco criticou violência usada com fins políticos Foto: AFP PHOTO / OSSERVATORE ROMANO

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Nenhum grupo assumiu a autoria dos ataques dos últimos dias, mas, segundo o promotor Enrique Vásquez, investigadores encontraram na igreja e na escola incendiadas ontem na cidade de Collipulli cartazes e panfletos com mensagens que exigiam a libertação de prisioneiros mapuches. Em Curanilahue, onde os helicópteros foram incendiados na noite da terça-feira, folhetos pró-mapuche também foram encontrados. 

+ Papa Francisco pede que direitos e cultura dos povos indígenas sejam respeitados

A notícia do último ataque incendiário, ocorrido em uma igreja de Panguipulli, 515 quilômetros ao sul de Santiago, foi revelada enquanto Francisco rezava a missa no Aeródromo de Maquehue, em Temuco, capital da região de La Araucanía, uma das mais pobres do Chile. Segundo o general Diego Olate, um panfleto também foi encontrado no local, mas o militar não deu mais detalhes.

Repressão

Atentados de indígenas radicais - contra madeireiras, propriedades de descendentes de colonos europeus, maquinários agrícolas e caminhões - são comuns nos arredores de Temuco. A região de La Araucanía está totalmente militarizada, com dezenas de empresas sob vigilância 24 horas. 

A repressão é constante contra os indígenas, cujas casas são invadidas por policiais que quebram seus móveis e já chegaram a atacar com gás lacrimogêneo o interior de creches que cuidam de crianças mapuches.

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Diferentemente dos casos de abuso sexual de religiosos, o tema indígena já estava na pauta da viagem de Francisco ao Chile e ao Peru, onde a chegada do papa é esperada para esta quinta. O pontífice tem interesse especial sobre a questão e espera aproveitar o giro latino-americano para preparar o terreno para um grande encontro eclesiástico, no ano que vem, sobre os povos a Amazônia.

Estima-se que cerca de 2 mil comunidades mapuches - com cerca de 700 mil pessoas - vivam no Chile pacificamente, à espera de que o governo lhes devolva pequenas porções de terra. Organizações radicais dos indígenas, porém, exigem a devolução total de seu território ancestral.

Em sua homilia na base área de Temuco, que além de se encontrar nas terras disputadas entre os mapuches e o governo chileno serviu de centro de detenção e tortura da ditadura do general Augusto Pinochet (1973-1990), Francisco denunciou o uso da violência para a obtenção de ganhos políticos. 

Dirigindo-se às cerca de 150 mil pessoas que compareceram à missa campal, dedicada também às vítimas do regime militar, o papa pediu diálogo em relação à causa mapuche.

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“Oferecemos esta missa para todos aqueles que sofreram e morreram – e para aqueles que suportam diariamente a carga de muitas dessas injustiças”, afirmou o pontífice.

Após a cerimônia, o papa almoçou com oito mapuches, um descendente de colonos suíços e alemães, uma vítima da violência na região e um imigrante haitiano. 

A líder mapuche, Francisca Linconao, acusada de participação no assassinato de um casal de agricultores de origem europeia, em 2013, tentou sem sucesso entregar uma carta a Francisco, mas o papamóvel não parou quando passou pela militante, na saída da missa. Nesta quinta, o papa visita Iquique, no norte do Chile, onde abordará a questão dos imigrantes. Depois, seguirá para o Peru.

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Ameaças

O governo do Peru determinou ontem um reforço de segurança para a visita do papa Francisco - cuja chegada ao país é prevista para esta quinta - acionando mais de 16 mil policiais, militares e agentes de inteligência na capital, Lima, e nas cidades de Trujillo e Puerto Maldonado, por onde o pontífice deve passar até o domingo, quando retorna ao Vaticano.

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Segundo a imprensa do Peru, uma freira da Nunciatura Apostólica atendeu a um telefonema, dias atrás, de uma mulher afirmando que o pontífice sofreria um atentado terrorista em Trujillo, no norte do país, cidade que Francisco visitará no sábado. As autoridades investigam a ameaça.

O chefe de polícia da região de Trujillo, o general César Vallejos, informou nesta quarta que “várias ameaças” contra o pontífice feitas pela internet “estão sendo analisadas pelo pessoal de inteligência e pela direção contra o terrorismo”.

“Membros de diferentes unidades da polícia e dos órgãos de inteligência do Ministério do Interior estão prontos para evitar qualquer tipo de ameaça que possa se apresentar nas atividades programadas pela chegada do papa”, declarou ontem o governo peruano. Franco-atiradores também serão acionados

A polícia iniciou nesta quarta o reforço de segurança em Igrejas Católicas. Cerca de 8 mil policiais e militares farão a segurança da missa campal prevista para o domingo na base aérea de Las Palmas, em Surco, no sul de Lima. / AP, EFE e AFP

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