Em meio a confronto com Igreja, Chávez mira TV católica

Governo amplia tensão com o Vaticano após presidente anunciar revisão de convênio firmado em 1964

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CARACASO presidente venezuelano, Hugo Chávez, disse que pretende "acabar com os privilégios" da Igreja Católica em seu país e rever um convênio firmado em 1964 com o Vaticano, que prevê no orçamento federal recursos para obras assistenciais e projetos educativos. Na terça-feira, Chávez ordenou ao ministro do Interior, Tarek El-Aissami, a revisão da licença da Vale TV, emissora do Arcebispado de Caracas, para "recuperá-la" e "colocá-la a serviço do povo".Maria Eugenia Mosquera, diretora da Vale TV, que tem em sua programação longos documentários sobre meio ambiente e cultura, disse ontem que a licença da emissora foi obtida em 1998 e teria validade de 20 anos, expirando em 2018."Troglodita". A atual tensão entre a Igreja Católica venezuelana e o governo chavista começou na semana passada, quando o arcebispo de Caracas, Jorge Urosa Savino, disse que Chávez estaria violando a Constituição ao impor uma ditadura comunista no país. As declarações foram feitas após a prisão do opositor Alejandro Peña Esclusa, acusado de armazenar explosivos para sabotar as eleições legislativas de 26 de setembro. Chávez respondeu ao seu estilo, chamando o cardeal de "troglodita", "fascista" e "indigno". Ontem, o presidente afirmou que o secretário de Estado do Vaticano, Tarcisio Bertone, conversou com o chanceler venezuelano, Nicolás Maduro, e demonstrou preocupação com a revisão do acordo de 1964. "Parece que no Vaticano estão preocupados com meu anúncio sobre a revisão do acordo. Eu sou católico, mas aqui há igualdade", declarou Chávez, que acusa a Igreja de participação no golpe frustrado de 2002. Analistas afirmam que a briga do presidente com o Vaticano é uma tentativa de desviar a atenção da população para os problemas do país a dois meses das eleições. / EFE E APPARA LEMBRARO regime que precedeu o chavismo na Venezuela ficou conhecido como o Pacto de Punto Fijo, acordo firmado em 1958 pelos dois partidos mais importantes do país, a Aliança Democrática (AD) e o Copei, que passaram a se alternar no poder - uma versão local da brasileira política do café-com-leite. A Igreja, de fora do acordo, demonstrou insatisfação. Por isso, em 1964, o então presidente Romulo Betancourt encontrou uma maneira de domesticar os bispos e assinou uma concordata com o Vaticano, batizada de "Modus Vivendi", que concedeu privilégios à instituição. Em seu Artigo 11, o tratado prevê a inclusão no orçamento federal de uma verba para o sustento de "bispos, vigários e instituições eclesiásticas", mas que poderia ser usada também para conservar templos e escolas pertencentes à Igreja.

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