Em meio à crise, Líbano forma novo governo

Vinte ministros foram anunciados no palácio presidencial na noite desta terça-feira, 21

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Por Redação
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O Líbano conseguiu formar na noite desta terça-feira, 21, um novo governo que terá a difícil tarefa de reviver uma economia em queda livre e convencer manifestantes, críticos à classe política. 

Quase três meses após a renúncia de Saad Hariri, sob pressão das manifestações, e mais de um mês após a nomeação do novo primeiro-ministro, Hassan Diab, apoiado pelo movimento xiita do Hezbollah, um novo governo composto por 20 ministros foi anunciado no palácio presidencial.

Manifestante anti-governo agita bandeira do Líbano durante protestos em Beirute Foto: Wael Hamzeh/EFE/EPA

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O primeiro-ministro, um acadêmico de 61 anos, prometeu que seu governo fará todo o possível para responder às demandas do movimento de protesto que agita o país desde 17 de outubro e está pedindo uma reforma do sistema político e a renúncia de uma classe política acusada de incompetência e corrupção.

Em Beirute, centenas de manifestantes se reuniram na avenida que leva ao Parlamento e atiraram pedras na polícia, que reagiu com bombas de gás lacrimogêneo, constatou a agência France-Press no local.

"(Este) É um governo que expressa as aspirações dos manifestantes em todo o país, mobilizados por mais de três meses, que trabalhará para responder às suas demandas", garantiu Diab, logo após o anúncio da formação de seu gabinete.

O primeiro-ministro prometeu nomear um governo de "tecnocratas independentes", o que responderia às aspirações da rua. Entre os novos ministros estão acadêmicos como o economista Ghazi Wazni, que ficará encarregado das finanças. 

Em seu discurso, Diab citou entre as demandas populares a "independência da justiça, a luta contra o enriquecimento ilegal" e também "a luta contra o desemprego".

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O ex-premiê libanês,Saad al-Hariri, que renunciou ao cargo Foto: REUTERS/Mohamed Azakir/File Photo

"Zombando do povo"

Antes do anúncio, cerca de 200 manifestantes se concentraram em Beirute, perto do Parlamento, bloqueando a via principal. 

"Queremos um novo Líbano, um Líbano livre de corrupção", disse o manifestante Charbel Kahi. "Não venha para zombar do povo libanês com o governo. Há dois meses que esperávamos", acrescentou o agricultor.

A tensão aumentou nos últimos dias com confrontos violentos no final de semana entre manifestantes e policiais, que deixaram mais de 500 feridos em Beirute. 

A nova equipe foi formada por apenas um lado político, o poderoso movimento xiita pró-iraniano do Hezbollah e seus aliados. Este ainda deve obter o voto de confiança do Parlamento. 

No entanto, mesmo entre esses aliados, foram necessárias intensas negociações políticas para distribuir as pastas. Ao lado do Hezbollah, há principalmente a formação de Amal Shia, bem como o Movimento Patriótico Livre, fundado pelo presidente Michel Aoun. 

Policiais tentam conter apoiadores do Hezbollah que tentaram destruir e queimar barracas de manifestantes anti-governo em Beirute, Líbano Foto: Hussein Malla/AP Photo

"Tarefa hercúlea"

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Para a nova equipe, os desafios são muitos, principalmente na esfera econômica, em um país com uma dívida de quase 90 bilhões de dólares, mais de 150% de seu Produto Interno Bruto (PIB). 

São necessárias reformas estruturais, em particular para liberar bilhões de dólares em ajuda e doações prometidas pela comunidade internacional. 

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Os manifestantes criticam que as autoridades não possam prover serviços públicos básicos. Trinta anos após o fim da guerra civil (1975-90), os libaneses vivem diariamente com falta de energia, uma rede deficiente de água corrente e uma gestão calamitosa de resíduos. 

O Banco Mundial alertou em novembro que as taxas de pobreza poderão atingir 50% da população, em comparação com um terço hoje.

A tarefa que se espera do governo "durante esse período sério é hercúlea", diz o cientista político Karim Mufti. "Dada a natureza multidimensional da crise, parece difícil conceber soluções de curto prazo para os problemas financeiros, econômicos e sociais do país", afirma. 

Vários dos principais partidos se recusaram a fazer parte do governo. /AFP

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