Em meio à guerra, crianças líbias tentam voltar à normalidade

Em Benghazi, professoras tentam manter escolas abertas para dar atividade aos jovens no país.

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Por Gavin Lee
Atualização:

Como prover estabilidade e educação para crianças em meio às turbulências de uma guerra civil? Esse é um dos desafios enfrentados atualmente pela Líbia. Em Benghazi, tomada pelos rebeldes durante a maior parte dos cinco meses de levante no país, as escolas tentam, com dificuldade, oferecer algo semelhante a uma educação normal aos pequenos alunos. Para Awaab, de sete anos, e sua irmã Buruuj, 8, o caminho percorrido diariamente para ir à escola passa por tanques e carros incendiados, casas destruídas e postos militares cravejados de balas. Toda a região foi profundamente afetada pelos combates iniciados em março. O pai das crianças, Abdul Salem Alsuisi, disse que se pergunta se as crianças serão afetadas psicologicamente pela situação. "Primeiro me preocupei, mas agora eles estão acostumados. Acho que eles se sentem tristes no começo, depois passam a viver normalmente, principalmente quando voltam à escola." Awwab e Buruuj estão entre as poucas crianças que têm a sorte de ainda poder ir à escola na Líbia, já que as instituições de ensino pelo país fecharam suas portas em meio ao conflito. Em Benghazi, algumas escolas reabriram suas portas para dar atividades às crianças, mas não há aulas regulares. Os locais estão sob o controle de professoras locais que não estão recebendo salários - caso de Naeema Kawofya. "A última vez que me pagaram foi em maio. A razão pela qual continuo ensinando é que não quero que as crianças fiquem nas ruas. Quero que venham à escola", ela contou. Comportamento A professora diz ter percebido mudanças no comportamento das crianças. "Claro que elas foram afetadas. Ás vezes elas não querem vir á escola. Dizem: 'talvez os mercenários nos matem. Quero ficar com meu pai, com minha mãe. E se (o líder do país, Muamar) Khadafi nos matar?'", relata Kawofya. "Algumas têm medo de vir, e notamos isso em seu comportamento." O principal objetivo da autoridade rebelde, o Conselho Nacional de Transição, é abrir todas as escolas de Benghazi até setembro e voltar a pagar as professoras. Eles desejam também reformular o material didático, alegando que os livros escolares contém propagandas pró-Khadafi. Mas há também a tarefa de cuidar das crianças que se tornaram refugiadas internas do conflito na Líbia, muitas vezes depois de terem presenciado terríveis cenas de guerra. Estima-se que ao menos 700 mil pessoas vivam em abrigos temporários em Benghazi, após escapar de áreas de intenso conflito, como as cidades de Misrata e Brega. Em um desses abrigos, Jenny Humphries, da ONG Save the Children, diz que as crianças estão profundamente traumatizadas pelo que viveram. "O que fazemos é permitir que expressem seus medos e preocupações por meio da arte e do desenho. Quando começamos a trabalhar com as crianças, algumas das imagens eram bastante terríveis, de foguetes, tanques, armas e cenas de morte." Com o tempo, diz Humphries, os desenhos se tornaram menos violentos e com menos expressões de raiva. Mas a pergunta que as crianças fazem continua sendo a mesma: quando poderão voltar para suas casas? BBC Brasil - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito da BBC.

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